Buenas... Conforme eu havia prometido, eis a segunda
parte de uma análise do cenário pós-eleitoral que iniciei em meu post anterior
(perdeu? leia aqui!).
O olhar, naquele momento, tinha um viés mais artístico (musical e literário,
por assim dizer). Agora, de acordo com o combinado, segue um olhar mais teológico
sobre o assunto.
Recapitulando, eu havia dito que a eleição do Voldemort me deixara com medo. Na
verdade, trata-se de uma mistura de sentimentos: pavor, derrota, impotência...
Isso me manteve paralisado por um tempo, mas logo percebi que não é o fim do
mundo, que nada de novo vai acontecer se ficarmos quietos, esperando os ventos
mudarem.
Lembrei, então, de Elias. Ele viveu no tempo de
Acab, rei de Israel [874 a 853 a.C.], cuja idolatria levou o povo à fome e à
miséria (1Rs 17,1.7; 18,1-2). Após uma verdadeira epopeia no monte Carmelo (cf.
1Rs 18,20-46), em que o projeto de morte do monarca parecia ter sido
definitivamente derrotado, entra em cena a rainha Jezabel e resolve endurecer o
cerco contra o profeta de Javé. Jurado de morte, ele se retira para o deserto e
esconde-se debaixo de uma árvore, onde pede para morrer e, depois disso, “deita
e dorme” (1Rs 19,1-5a).
Impressiona a semelhança, se pensarmos em Acab como
o eleito, e Jezabel representar o juiz de Curitiba. Lula não foi para o
deserto (autoexílio em países como o Uruguai, que à época abriram as portas para
o ex-presidente) e deu no que deu. A fuga de Elias foi providencial.
Mas Javé não o queria dormindo debaixo do junípero. Era preciso que a retirada fosse (ou
se tornasse) estratégica. Por isso, um anjo o acorda e diz: “Levanta-te e
come!” (v. 5b). Como ele não entendesse bem o recado, o mensageiro repetiu:
“Levanta-te e come, pois do contrário o caminho te será longo demais!” (v. 7).
Ficar parado só alimenta o medo. É preciso levantar,
sair do ponto de inércia, colocar-se em movimento, ou nada mudará.
Elias é convocado a ir para o monte Horeb (v. 8). O
que tem esse lugar de especial? Ele representa o ponto alto de outra caminhada,
que não durou 40 dias e 40 noites (como a de Elias), mas 40 anos: a libertação
do povo hebreu. Foi no Sinai (= Horeb; cf. Ex 19,1-20,21; Dt 4,10-11) que
Moisés recebeu as leis para a organização de uma nova sociedade, totalmente
livre do poder opressor do Egito.
É preciso voltar à origem, ao primeiro amor. Eis a
questão, não só para o PT, mas para os movimentos sociais. Não esquecer por que
existimos. Por outro lado, é preciso entender também os tempos, fazer a correta
leitura do cenário. A Moisés, Javé falou pelo trovão (Ex 19,19), com fogo,
relâmpago e tremores de terra (Ex 16.18). O povo tinha se libertado, vivia um
tempo de autonomia, caminhava perdido no deserto, mas sem o opressor por perto.
Elias tinha a Polícia Federal, isto é, o Exército de Jezabel em seu encalço.
Deus passou por ele. Entretanto, não estava no furacão, nem no terremoto, nem
no fogo; sua voz era uma brisa suave
(1Rs 19,11-12).
A noite está começando. É tarde... Um novo dia virá,
porém. Agora é hora de se recolher. Dormir será sonhar, e como diria Raul
Seixas:
“Sonho que se sonha só
é só um sonho que se sonha só.
Mas
sonho que se sonha junto é realidade.”
Talvez por isso algumas pessoas encarem sonhar como
o momento em que a gente finalmente se desperta. Parafraseando, ainda, o
roqueiro baiano:
“Justamente acordei
No
dia em que a terra parou.”
Volto, portanto, ao fim de meu texto anterior: “É
hora de sarar as feridas, o que implica buscar apoio nas amizades, nas
parcerias, nas redes.” A hora é de nos reorganizarmos, de nos reinventarmos. É
hora de sonhar!
Obs.: O texto completo (partes I e II) pode ser lido
no site no CEBI (clique aqui).
O título ficou um pouquinho diferente do original (meu post anterior), mas a essência
permanece.
Nenhum comentário:
Postar um comentário