sexta-feira, 2 de novembro de 2018

BALADAS PARA ESTES NOVOS(?) TEMPOS


Que dias, senhoras e senhores! Que dias... Parafraseando o Ira!, banda paulistana de rock, estes serão “Dias de Luta”.
Mas devo confessar... Minha primeira reação, findo o pleito presidencial, foi de desesperança e desejo de me exilar no mais profundo silêncio e ostracismo. Eu tive medo. Muito medo! Principalmente após o primeiro pronunciamento do eleito, ou melhor (seguindo a analogia de meu texto anterior com a saga do menino Harry Potter [leia aqui], o primeiro passo para vencer o inimigo é dizendo seu nome): Principalmente após o primeiro pronunciamento de Lord Voldemort.
Nada mais condizente com o feriado de finados do que essa sensação terrível...
Tenho filhas para criar, para ver terminar de crescer, tenho planos com minha esposa, tenho sonhos ainda por realizar... Nada disso se concretizará se:
1)      Eu continuar me confessando socialista;
2)      Ele cumprir com sua palavra (ou ameaça?) de varrer os “extremismos” de esquerda.
Portanto, decidi me calar. Nem para a sala dos professores eu desci essa semana, na hora do recreio. Não queria ouvir falar nada sobre o assunto. Muito menos, olhar para a face de “colegas” eleitores (e o pior: eleitoras) dele. Mas aí...
Voltando àquela música da banda paulistana... Ela começa assim:
“Só depois de muito tempo,
fui entender aquele homem.
Eu queria ouvir muito,
mas ele me disse pouco...”
Até aí, nada demais! Porém, uma colega me pediu para conversar com seu filho, que por acaso é meu educando. Ele não queria mais frequentar as aulas de um determinado professor porque este estaria fazendo campanha aberta para o eleito, digo, o Voldemort, lançando mão inclusive de notícias falsas, como por exemplo a distribuição do kit gay...
(Buenas... se você ainda acredita nisso, clique aqui)
Enfim... Não poderia simplesmente dizer para meu pupilo que aquele educador estava errado. Ou melhor... Nada poderia comentar sobre aquele “colega”, sob pena de ser antiético. Então quis suscitar naquele jovem algo que o instigasse, que o fizesse querer ir às aulas, pois deixar de frequentá-las seria caminho certo para a reprovação.
— Você precisa lutar pelo seu espaço. Como estudante, a escola é o seu lugar. Se abrir mão disso, estará dando força às propostas excludentes do coiso.
Os olhos do guri brilharam:
— Entendi, sôr! Se eu desistir, é sinal que ele ganhou!
E lá se foi ele, bem determinado. Senti-me “aquele homem” da canção. Ao mesmo tempo, eu era o eu-lírico. Eu era aquele menino. Se o sinal bateu, ou alguém falou mais alguma coisa, não sei. Ouvia apenas uma música, que tocava em minha cabeça:
“Busca logo o teu espaço
e firma o pé na caminhada.
Pisa firme neste chão
e toma parte na jornada.”
E o som ficava ainda mais “alto” no refrão:
“Pois aqui tu tens o teu lugar!
Pois aqui tu tens o teu lugar!”
Sem querer, o conselho que dei serviu muito mais para mim do que para o estudante. O que eu lhe disse foi muito pouco, mas, conforme segue o rock “Dias de Luta”:
“Quando se sabe ouvir,
Não precisam muitas palavras.”
É isso mesmo! Pessoas amigas falavam, no dia do resultado, para não desanimar. Mas a tristeza era tanta que eu nada ouvia. Com o jovem, porém, eu deveria parecer sincero. Acontece que eu não sei como parecer sem ser. Então disse-lhe algo que eu mesmo precisava ouvir.
Precisamos lutar pelo nosso espaço. O Brasil é o lugar de todas as brasileiras e de todos os brasileiros. Nesses tempos em que a máxima “ame-o ou deixe-o” parece ressuscitar, é preciso dizer: “Eu o amo sim e, por isso, quero-o livre!”
Vejo muitas de minhas educandas – e educandos – frequentando igrejas que apoiaram a candidatura vencedora. Como educador, sinto que preciso disputar espaço com elas. Mas sozinho não dá! É por essas e outras que, para mim, o hino “O Teu Lugar”, cântico luterano (ouça aqui), parece o mais adequado para este momento, inclusive pelos seguintes versos:
“Vem sarar tuas feridas
e buscar mais liberdade.
Descansar as tuas cargas
sobre a nossa amizade.”
De fato, é hora de sarar as feridas, o que implica buscar apoio nas amizades, nas parcerias, nas redes. Precisamos nos reagrupar, cuidar uns dos outros, descansar e, passo seguinte, repensar a caminhada.
Isso me faz lembrar alguns textos bíblicos, mas esse texto já ficou comprido, de modo que continuarei essa reflexão (pelo seu viés mais teológico) no próximo post. Até lá!

Um comentário:

  1. Texto perfeito que reflete a verdadeira situação que estamos, daqui pra frente não será fácil, alias já estávamos ruim.
    Unir é a melhor forma de exterminar o fascismo mascarado que existe entre nós. No momento o que mais me preocupa é a Escola Sem Partido. Mas vamos lutar e vencer essa grande batalha.
    Parabéns pela ótima visão de tudo isso. Sabias palavras!

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