sábado, 5 de outubro de 2013

São Francisco, um livro e a Perfeita Alegria

Estou escrevendo um livro, um romance. Chique, né!? Que experiência maravilhosa! Bom, e ontem foi dia de São Francisco, mas eu não consegui postar nada. Por isso, hoje, querendo dedicar algumas palavras ao homem cuja espiritualidade inspira a muitos, inclusive a mim -- e aproveitando o ensejo para divulgar meu ensaio --, resolvi divulgar um trecho da obra. Mas, antes, um pequeno esclarecimento: trata-se de uma carta onde um rapaz, que está num programa de proteção a testemunhas, comunica-se com seu amigo padre. O tema da história é segredo, pelo menos por enquanto. Mas tenham certeza de que tenho em vista a luta do povo e dos jovens enquanto escrevo. Então, sem mais delongas, segue um pedacinho do filho que ainda não pari totalmente:

Santa Maria, 03 de outubro de 2010.
Fraterno irmão,                    
A Paz e o Bem!          
Amanhã a gente comemora o dia do Chicão. Como eu gostaria de estar aí. O pessoal aqui é bem bacana, mas dia de São Francisco, pra eles, é um dia normal como todos os outros. Fazem falta nossas festas...
Nesses dias de exílio, faz bem meditar a Perfeita Alegria, tema tão caro ao Poverello d’Assisi. Levei anos para entender que não se trata de uma atitude passiva, um conformismo, como se o que nos acontece fosse fruto de um destino inevitável. Antes, é um estado de espírito ao qual só chegam aquelas e aqueles que gozam de plena liberdade. A Perfeita Alegria, meu irmão, consiste em não permitir que pessoas mal intencionadas e fatos desagradáveis abalem nossos ânimos, nossa fé.
Custei para chegar a essa conclusão. De início, eu pensava: “Se Francisco foi tão revolucionário, tão defensor dos pobres, como pode pensar que devíamos ficar alegres mesmo diante da pior desgraça, da pior injustiça?” Acontece, meu caro, que eu confundia alegria com gratidão. Ora, uma coisa é aceitar que o mal existe; outra é conformar-se, resignar-se, tomá-lo por inevitável vontade de Deus. Vista dessa forma, a mensagem do Irmão de Assis passou a fazer todo sentido para mim.
E como preciso exercitar a Perfeita Alegria nesse tempo de aflição... Não nasci para ser vigiado, guardado a sete chaves, impedido de estar no meio do povo. Os últimos já são os oito meses mais longos de toda a minha vida. Espero, do fundo de minh’alma, que termine logo o julgamento – e os meus agressores sejam penalizados – para que possa voltar à minha terrinha. Entretanto, como são da Brigada Militar, estou prevendo que tudo acabará em pizza, e eu terei que ficar, ad eternum, em Santa Maria.
Enfim... Chega de aborrecê-lo com as noias do meu ócio degenerativo. Vou voltar ao “amaro farniente”. Ademais, sei que estás ocupadíssimo com os jovens e as questões de tua Paróquia. Dê-me notícia de teus afazeres. Um abraço!
Atenciosamente,                    
Irmão Beto!