Santa Maria, 03 de outubro de 2010.
Fraterno irmão,
A Paz e o Bem!
Amanhã a gente
comemora o dia do Chicão. Como eu gostaria de estar aí. O pessoal aqui é bem
bacana, mas dia de São Francisco, pra eles, é um dia normal como todos os
outros. Fazem falta nossas festas...
Nesses dias de
exílio, faz bem meditar a Perfeita Alegria, tema tão caro ao Poverello
d’Assisi. Levei anos para entender que não se trata de uma atitude passiva, um
conformismo, como se o que nos acontece fosse fruto de um destino inevitável.
Antes, é um estado de espírito ao qual só chegam aquelas e aqueles que gozam de
plena liberdade. A Perfeita Alegria, meu irmão, consiste em não permitir que
pessoas mal intencionadas e fatos desagradáveis abalem nossos ânimos, nossa fé.
Custei para
chegar a essa conclusão. De início, eu pensava: “Se Francisco foi tão
revolucionário, tão defensor dos pobres, como pode pensar que devíamos ficar
alegres mesmo diante da pior desgraça, da pior injustiça?” Acontece, meu caro,
que eu confundia alegria com gratidão. Ora, uma coisa é aceitar que o mal
existe; outra é conformar-se, resignar-se, tomá-lo por inevitável vontade de
Deus. Vista dessa forma, a mensagem do Irmão de Assis passou a fazer todo
sentido para mim.
E como preciso
exercitar a Perfeita Alegria nesse tempo de aflição... Não nasci para ser
vigiado, guardado a sete chaves, impedido de estar no meio do povo. Os últimos
já são os oito meses mais longos de toda a minha vida. Espero, do fundo de
minh’alma, que termine logo o julgamento – e os meus agressores sejam
penalizados – para que possa voltar à minha terrinha. Entretanto, como são da
Brigada Militar, estou prevendo que tudo acabará em pizza, e eu terei que
ficar, ad eternum, em Santa Maria.
Enfim... Chega
de aborrecê-lo com as noias do meu ócio degenerativo. Vou voltar ao “amaro
farniente”. Ademais, sei que estás ocupadíssimo com os jovens e as questões de
tua Paróquia. Dê-me notícia de teus afazeres. Um abraço!
Atenciosamente,
Irmão Beto!
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