sábado, 24 de dezembro de 2011

BOAS FESTAS!!!

Bom, pessoal...

Eu não tenho a menor inspiração para escrever algo sobre o Natal e o Reveillon. Não é que eu não goste de comemorar as festas de fim de ano... Mas o que muda efetivamente?

É tempo de repensar a vida? Rever conceitos? Fazer memória do nascimento de Jesus? Mas essa não deve ser uma atitude constante? Ou o resto do ano é tempo de sermos alienadas e alienados?

O que há de nobre em ser generosa, generoso nesta época? Só porque assim "exige" o espírito natalino?

Pra que fazer tantos planos que são engavetados assim que entra o dia 02 de janeiro? Por que esperar que as pessoas pratiquem valores cultivados somente em uma semana do ano?

Digo a vocês o que penso dessas datas! Em um mundo ideal, elas seriam tempo de comemorar o amor universal, a paz mundial, a erradicação da miséria e da fome, dia de comemorar a vida, a saúde e a felicidade.

Mas como não vivemos em um mundo ideal, Natal e Ano Novo deveriam ser dias de (re)afirmar a luta por um mundo melhor, esta sim uma exigência do Evangelho.

Nunca é demais lembrar que Jesus veio ao mundo para trazer-nos de volta ao Plano Divino, citado em Jo 10,10: "Que todas/os tenham vida, e vida em abundância".

A ideia geral é festejar, alegrar-se, esquecer-se dos problemas, isto é, da vida real. Mas deveria ser ao contrário. Deveria ser dia de rezar pelas/os que sofrem e comprometer-se com a causa delas/es.

Que neste Natal e Ano Novo, em vez de revisitar o passado, meramente a contemplá-lo, possamos olhar para as conquistas do presente e para as possibilidades do futuro. E, em vez de simplesmente comemorar o nascimento de Jesus, perguntemo-nos: "Pra que Jesus nasceu?" Este sim é o sentido do Natal.

É com esta reflexão em mente que desejo a todas/os: BOAS FESTAS!!!

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

O Papel da Bíblia nos Grupos de Base

O texto abaixo foi escrito, originalmente, para o blog do meu amigo Rogério de Oliveira. Seu site tem sido de grande valia para a PJ (Pastoral da Juventude – ICAR). Amigo Rogério, estou (re)disponibilizando este material porque, a meu ver, dialoga com a sua recente postagem: PJ não reza. Falamos em PJ porque é o chão comum a mim e ao Rogério, mas tenho certeza de que grupos de base de outras denominações poderão aproveitar estas reflexões. Vamos a elas?

LER PRA QUÊ?

De tudo o que passarei a discorrer agora, guarde principalmente isto: ler a Bíblia é comprometer-se. Não é que as outras coisas não tenham importância, mas tenho pressa de chegar ao que realmente interessa. Além disso, é como diz aquela canção sobre o profeta: “Tenho que gritar! Ai de mim, se não o faço!”

Irrita-me o falso zelo pela Bíblia. Dizem por aí que ela é a Palavra de Deus, que devemos reverenciá-la, que nela se encerra toda a Verdade etc. Mas o que vejo em nossos grupos é a sua leitura, muitas vezes, servindo apenas para iniciar as reuniões. Pensa-se garantir, assim, um momento de espiritualidade para introduzir os temas que “realmente interessam”. Em vez de colocá-la no centro das reflexões, servindo como um norte, um guia, fazem dela um “aperitivo a ser servido antes do prato principal”. Ignora-se, com isso, seu verdadeiro papel: iluminar as situações do dia-a-dia, especialmente aquelas onde a vida do povo encontra-se oprimida.

Ler a Bíblia deve transformar-nos. Caso contrário, não estamos lendo a Palavra de Deus. Claro, para que isso aconteça, muito depende da nossa abertura ao texto. Se nossa atitude não é de escuta, nada assimilaremos do que está diante de nossos olhos. Mas vejamos o que diz o profeta Isaías: “A palavra que sai de minha boca não volta para mim sem efeito, sem ter realizado o que eu quero e sem ter cumprido com sucesso a missão para a qual eu a mandei” (Is 55,11). A verdadeira Palavra de Deus incomoda, inquieta, desinstala, faz pensar e faz agir.

Esse incômodo, esse compromisso não é com qualquer causa. Segundo Jesus: “nem todo aquele que me diz ‘Senhor, Senhor’, entrará no Reino do Céu” (Mt 7,21a). É comum que, para abafar o chamado de Javé, alguns trechos das Escrituras sejam relativizados. Assim acontece com afirmações categóricas de Jesus como: “Vá, venda tudo o que tem, dê o dinheiro aos pobres, depois venha e me siga” (Mt 19,21). Alguns dizem que, aqui, Jesus refere-se às riqueza e pobreza espirituais. Dentro dessa lógica, qual a explicação para “dê o dinheiro aos pobres”? Alguém me disse, certa feita: “Se te chamam para falar a um grupo de banqueiros, vai... é tua missão! Se te chamam uma segunda vez... repense a missão!” O Cristo diz de outra forma: “Onde estiver teu tesouro, aí estará o teu coração” (Mt 6,21). O Reino é promessa de vida abundante para todas e para todos (Jo 10,10). Logo, o compromisso do Evangelho é com aquelas e aqueles que ainda não têm vida em plenitude, ou seja, os pobres.

Nos tempos bíblicos, os pobres eram representados por alguns grupos: leprosos, viúvas, órfãos, estrangeiros etc. A maior parte dos profetas diz que o louvor agradável a Javé é defender a causa desses grupos (veja, por ex., Is 1,10-11.17). Em Naim, Jesus vê uma viúva ficar “órfã” do filho. Naqueles tempos, ser mulher não era muito fácil. Sem um marido, então... Agora, imaginem uma viúva sem filhos homens para ampará-la. Compadecido pela situação, Jesus restitui a vida ao rapaz (Lc 7,11-17). Só isso já é suficiente para percebermos que nosso Deus toma partido, isto é, mesmo amando a todas e a todos, indiscriminadamente, Ele fica do lado dos que mais sofrem, como que a denunciar: “Olha, pessoal... Essas irmãs e irmãos aqui precisam de um pouquinho mais de dignidade.”

Os fatos são evidentes. Entretanto, há grupos exímios em distorcer os textos bíblicos. Por exemplo, em relação à Cruz! Para eles, qualquer sofrimento é um Calvário. Com isso, alegam estar seguindo a Cristo. “Esquecem” (muito convenientemente) os motivos que O levaram à crucifixão. Basta qualquer atrito, seja por um cargo ou função dentro do grupo ou comunidade, seja pelo “horário nobre” da missa (isto é, o horário onde a missa é mais frequentada), seja por causa da organização do bingo ou quermesse paroquial, e pronto: “Esta é a minha provação; estou sendo perseguida/o, assim como Jesus”. Alguns até batem no peito e citam as Escrituras de cor: “Quem não toma a sua cruz e não me segue, não é digno de mim” (Mt 10,38). Mas Jesus não morreu por um cargo na Igreja. Ele foi assassinado! E o motivo da barbárie é muito simples: alguém não gostou que o Messias defendesse a vida do povo.

Os pseudos-cristãos, isto é, aqueles que não se comprometem com nada nem ninguém, a não ser consigo mesmos, estão em toda parte. Ministrei, já faz um bom tempo, um curso de liderança. Lá pelas tantas, o grupo deveria responder a duas perguntas: 1) “Qual a maior dificuldade do seu bairro, grupo ou comunidade?”; 2) “Indique com gestos concretos como solucionar este problema?”. As respostas foram as seguintes: 1) “Problema: esgoto a céu aberto”; 2) “Solução: fazer uma tarde de louvor”. Mais recentemente, trabalhando o mesmo curso, alguém me disse: “Não quero discutir a situação dos carroceiros; quero discutir o meu grupo”. Fica evidente que alguns grupos usam o espaço da Igreja para auto-promoção. Dizem ser fiéis a Jesus, mas estão preocupados única e exclusivamente com a própria “salvação”.

O Messias também teve que enfrentar o “corpo mole” de alguns grupos para os quais falava. Mas Ele não entrava no jogo. Sua reação era enérgica: “Não pensem que eu vim trazer paz à terra; eu não vim trazer a paz, e sim a espada. De fato, eu vim separar o filho de seu pai, a filha de sua mãe, a nora de sua sogra. E os inimigos do homem serão os seus próprios familiares. Quem ama seu pai ou mãe mais do que a mim, não é digno de mim. Quem ama seu filho ou sua filha mais do que a mim, não é digno de mim. Quem não toma a sua cruz e não me segue, não é digno de mim. Quem procura conservar a própria vida, vai perdê-la. E quem perde a sua vida por causa de mim, vai encontrá-la” (Mt 10,34-39). Diante disso, como afirmar-se cristão e manter-se, ainda, alheio aos problemas à nossa volta?

O Evangelho diz: “Quem tiver duas túnicas, dê uma a quem não tem” (Lc 3,11). Ele não diz “olhe primeiro se o ‘vagabundo’ merece a túnica”, nem “fique com a melhor e dê a rasgada pra ele”, nem “dê aquela que está sobrando”. O ensinamento é simples e radical: partilhe. Por que, então, tanta resistência em ajudar (aliás... ajudar não: restituir a dignidade!) aos mais necessitados?

Que a Bíblia tome seu verdadeiro espaço em nossos grupos. Que nossas ações sejam pautadas pelos ensinamentos de Jesus. Que a nossa prática seja sempre inclusiva. E, por fim, que a partir da Bíblia busquemos incessantemente promover/defender a vida, principalmente onde ela é mais ferida, pois é isso que Cristo quer de nós. Amém!!!

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Um Culto de Instalação


Faz alguns dias, participei de uma celebração luterana. Isso porque fui convidado para representar o CEBI-RS no Culto de Instalação da Pra. Cleide na Paróquia da IECLB do bairro onde moro. Como eu já a conhecia dos encontros e cursos ecumênicos espalhados pelo sul do Brasil, sentia-me muito feliz de poder prestigiá-la. Porém, eu não esperava encontrar um rito tão vivo, tão aconchegante, tão participativo.

Espero que me entendam: eu não estava menosprezando a liturgia luterana; é que celebrações como essa tendem a se preocupar mais com os aspectos formais do que com a vida das pessoas. Sabem quando um Padre toma posse em uma Paróquia? Um Culto de Instalação, guardadas as devidas particularidades de cada denominação, é a mesma coisa. Aquela congregação tão singular, tão informal e, ao mesmo tempo, tão cheia de significado encheu-me de santa inveja.

Além da comunidade local, estavam presentes membros de diversas entidades ecumênicas e macro-ecumênicas (SELÉO, CECA, GDIREC e CEBI), líderes da IECLB e estudantes de Teologia da EST. As personalidades iam desde os vice-reitores da Unisinos e da EST, passando pela figura bem peculiar do Bandeira (espírita, membro do GDIREC), até o povo mais simples da comunidade (simples = sem cargos ou participação em outras instâncias). Houve um momento onde as pessoas poderiam dizer o que quisessem para a Pra. Cleide. Todos os segmentos falaram, por meio de seus representantes, de modo que todo mundo se sentiu incluído. Isso, para mim, foi muito especial e diferente de todas as solenidades que participei (aliás, participei não; presenciei).

Finalizando o rito, Cleide nos presenteou com uma reflexão sobre os Discípulos de Emaús (Lc 24,13-35). Não vou entrar em grandes reflexões sobre o texto, até porque já as fiz em outro momento, mas considero muito feliz a escolha do tema. Isso porque Jesus não caminhava lado a lado com dois discípulos quaisquer, mas um casal. Em Lc 24,18 aparece somente o nome de Cléofas. Porém, em Jo 19,25 são nomeadas as mulheres ao pé da cruz: uma delas é Maria, esposa de... adivinhem... isso mesmo! Clopas, que vem a ser o mesmo Cléofas de Lc.

E olhem que feliz coincidência – e aí está outro motivo de santa inveja para mim, que sou católico romano: quem assumiu a Paróquia da IECLB do meu bairro é uma mulher. Embora eu não conheça nenhuma Pastora Sinodal (cargo equivalente ao de Bispo), já me sinto feliz só de ver uma mulher no púlpito. Nossas denominações ainda são bem machistas, mas em algumas as mulheres têm conquistado mais espaços. Oxalá chegue o dia em que elas realmente sejam reconhecidas em condição de igualdade (e santidade?) com os homens.

Saí, por fim, realizado do culto. Que bom seria se todas as celebrações, solenes ou não, fossem assim tão humanas, tão simples e tão conectadas à vida. Glória a Deus!

sábado, 19 de novembro de 2011

O Mistério da Truta

Enfim, concluí o projeto de extensão do meu Estágio de Letras pela ULBRA. A ideia era que as educandas e educandos escrevessem um conto. Os melhores seriam selecionados para se tornarem filmes “estrelados” pelos próprios jovens. Como o colégio que me acolheu (EMEF Olímpio Vianna Albrecht) estava respirando os ares do projeto Leituração (promovido pela Secretaria de Educação de São Leopoldo/RS), atividade que, visando incentivar a leitura, faz com que algumas escolas da cidade “adotem” um autor gaúcho para ser lido e homenageado, desenvolvemos o conto inspirados pelo livro “A Truta”, de Luís Dill (site aqui). Em virtude do tempo de Estágio, acabou que a gurizada transformou em filme um conto que eu mesmo escrevi. Mas creio que, ainda assim, o objetivo principal, que era uma produção das/os jovens, foi alcançado.

Abaixo segue o vídeo...

E, mais abaixo, o conto na íntegra:

 


O MISTÉRIO DA TRUTA

Era noite! Eu estava escondido num baú, um móvel antigo como tantas coisas que guardávamos na garagem de casa. Juntávamos tanto cacareco que o carro mesmo dormia no pátio. Naquele momento, eu era o detetive Carlinhos, tinha 10 anos e minha missão era descobrir o que papai fazia sozinho naquele “depósito” todas as noites.
Por uma fresta, espiei-o sentar-se na poltrona e abrir uma pasta. Mas não era uma pasta qualquer. Dela saía uma luz azul. Deduzi ser um laptop! O que era assim, tão sigiloso que eu, mamãe e meus irmãos não podíamos saber? Ele ficou horas escrevendo, sorrindo, admirando, pensando, com um fone de ouvido. Então, um barulho na rua, parecia vir do carro. Papai correu para ver. Saí do baú, o coração palpitando, a curiosidade vencendo o medo de descobrir o que estava acontecendo lá fora. Corri para o computador. Uma luz estava piscando. No centro da tela, uma mensagem: “Desvende o mistério da TRUTA. Clique aqui!” E agora? Eu queria mesmo descobrir o que meu pai tanto admirava diante daquela máquina? Cliquei depressa, mais de medo dele voltar do que de outra coisa. Um novo barulho, desta vez ensurdecedor. Tudo ficou escuro. Acordei em minha cama, com 15 anos de idade.
Levantei num sobressalto. Corri para a cozinha. Papai? Mamãe? Carol? Pedro? Ninguém em casa... Minha mochila estava na mesa. Mamãe deixara-me um bilhete: “Volto mais tarde”. Alguém bateu na porta: “Carlos, depressa! Estamos atrasados!” Eu não conhecia aquela pessoa: “Desculpe, mas quem é você?” Era uma tal de Melissa. Perguntei de onde nos conhecíamos. Ela me recriminou: “Amnésia de novo? Por que você não toma seus remédios direitinho? Anda, pega a mochila que hoje tem prova!
Prova? Melissa? 15 anos? Mas a última coisa de que me lembro é aquele baú lá na garagem... “Ih, lá vem você de novo com essa história? Desencana! Temos um problema maior agora: qual é mesmo a fórmula da hipotenusa?” Hipotenusa? Seria algum monstro daqueles filmes do Hércules? Tinha uma com cabelos de cobra... Não, aquela era a Medusa! Quem é essa Hipoten... Ei, espere um pouco! “Ah, Carlos, anda! Mas que coisa, estamos atrasados! Quer saber, fica aí viajando que eu tô indo!” Não, é sério! O que tu sabe sobre a Truta? “Ah, chega! Fui, hein! Tchau!” Será que essa Truta também é um monstro grego? Ei, me espera! Eu não queria ficar sozinho. Essa Melissa parecia gostar de mim. Eu me sentia seguro com ela. E nessa situação, sem saber o que estava acontecendo, eu precisava de alguma proteção.
Hipotenusa, cateto, isósceles, eu estava apavorado. Já estava esperando que detrás de alguma página saltasse o Minotauro, ou um Cíclope... Por que meu irmão adorava contar aquelas histórias de monstros pra mim? Eu nem mexia na prova, queria ganhar tempo. Será que já havia chegado alguém em casa? Alguém que soubesse notícias do papai? O que aconteceu depois que eu mexi no notebook dele? Melissa deve ter visto como eu estava assustado, pois me passou a cola da prova. Mais monstros mitológicos surgiram na minha mente. Ela bem que tentou me ajudar, mas eu realmente não sabia nada sobre aquela matéria.
Na saída da escola, Melissa parecia muito brava: “Tanto dia pra perder a memória e tu foi sair da casinha justo hoje? Meu, essa foi a pior prova de toda a minha vida! Essa professora é maluca!” Tentei prestar atenção, mas eu não aguentava mais de curiosidade. Interrompendo suas queixas, perguntei se ela sabia o que havia acontecido com o meu pai. Ela parou, olhou-me com ternura e tristeza. Disse que não sabia como me contar aquilo outra vez. Mas aquilo o quê? Ela suspirou, pegou em minha mão e disse o que eu mais temia ouvir. Ele morrera naquela noite em que me escondi no baú. Um psicanalista explicou pra mamãe que eu sofrera um trauma muito grande, que seria normal eu me esquecer do tempo presente e reviver aquele dia, pois eu me sentia culpado pelo que aconteceu. De fato, se eu tivesse saído do baú antes, se eu tivesse feito algum barulho para o pai perceber que eu estava ali. Eu teria levado uma bronca, ele teria me levado para dentro de casa com um belo puxão de orelha, mas estaríamos todos bem agora.
Quis chorar, mas não conseguia derramar uma lágrima. Pelo jeito, eu já havia chorado muito a morte dele. O desejo que dentro de mim brotava era o de descobrir o tal mistério da Truta. Sentia que aquilo poderia solucionar o problema. Quase não escutei Melissa me dizendo alguma coisa sobre os mortos não voltarem. Apressei o passo, pois queria chegar logo em casa e descobrir o que acontecera com o laptop. Melissa corria, mas mal conseguia me acompanhar. Ela dizia que eu já havia tentado aquilo milhões de vezes. Mas que coisa! Ela estava ali para me ajudar, ou me desanimar? Eu já estava começando a ficar bravo.
Chegando em casa, minha irmã estava esparramada no sofá. Onde está o notebook do papai? Mamãe vendeu! Como ela pode fazer isso comigo? Mamãe não aguentava mais ver você tendo essas recaídas e se enfiando no quarto com essa porcaria! Melissa me puxou pelo braço, dizendo que minha irmã estava certa. Eu já ia xingá-la quando, fazendo um sinal, ela me puxou para fora e começou a contar que mamãe lhe mandara se livrar do laptop, mas ela não teve coragem e resolveu guardá-lo. Olhei novamente com simpatia para aquela (ainda desconhecida) amiga. Fomos até sua casa. A visão daquele computador trouxe-me de novo as lembranças daquela noite. Sentados no chão do quarto dela, abrimos e ligamos a máquina. Novamente a tela azul, o coração praticamente saltando pela boca. Mas que decepção... Abriu-se um plano de fundo normal, sem avisos, nem luzes piscando, nem links para clicar.
Tentei localizar alguma pasta ou arquivo com a palavra “truta”; nada! Melissa começou novamente a velha ladainha. Parecia que, de fato, meu pressentimento era apenas uma fuga da realidade, o simples desejo de que nada daquilo tivesse acontecido. Mas não me dei por vencido: procurei no Google. Descobri que a truta era um peixe de carne muito apreciada. Havia também a ópera de um tal de Schubert. A música falava de um peixe-truta fisgado por ser curioso. Se não tivesse dado importância à isca, não ficaria preso ao anzol. Será que era isso? Se eu não fosse curioso, teria salvo papai? Mas foi ele que correu até a rua, ver o que estava acontecendo. Teria feito isso mesmo que eu não estivesse lá. Como eu poderia tê-lo avisado? Melissa me chamou a atenção para outros resultados da busca. Havia um tal de Recanto da Truta. Perguntei se já teríamos ido lá. Ela balançou a cabeça negativamente. Então vamos para lá agora.
Rua dos Marinheiros, nº 112. É aqui! Entramos e fomos atendidos por uma simpática senhora. Era um antiquário. Ela perguntou o que nós queríamos, pois era-lhe estranho dois jovens entrarem em sua loja. De um modo muito confuso, tentei resumir nossa história. Vendo meu embaraço, Melissa foi direto ao ponto: “O pai dele morreu e achamos que a senhora pode nos ajudar”. A mulher ficou olhando os dois, aparentemente sem entender o que queriam. Melissa continuou: “Achamos que a morte do pai dele tem a ver com o mistério da Truta”. A velhota olhou mais fixamente para mim: “Você tem os olhos do seu pai.” Empalideci. O que essa doida está dizendo agora? “Há tempos dei um presente a ele, um quadro chamado ‘A Truta’, em homenagem a uma peça musical de mesmo nome, composta por Schubert.” Mas como? A senhora conhecia meu pai? “Sou uma tia distante. Há muito procurava o filho da minha irmã. Faz 5 anos que o encontrei. Infelizmente, uma semana depois ele morreu.” E por que a senhora não nos procurou, não falou conosco? “Falei com tua mãe, mas ela reagiu friamente. Acho que ela não acreditou em mim...” Fiquei envergonhado. Melissa me pegou pelo braço e fomos para a porta. Minha tia, então, falou: “O quadro ainda deve estar em tua casa. Quer mesmo descobrir o mistério da Truta? Olhe fixamente para ele!” Agradeci com um aceno de cabeça e saí arrastado pelos braços. Minha nova amiga tinha um jeito nada carinhoso, mas muito eficiente, de me tirar de situações embaraçosas.
Chegando em casa, mamãe já estava aflita, perguntando por mim. Calma, mãe! Fomos a uma... “A uma sorveteria”, apressou-se Melissa em dizer. Depois fiquei sabendo que minha mãe tinha verdadeiros chiliques quando eu tocava no assunto da Truta. Perguntei se ela poderia me contar novamente como papai morreu. Pacientemente, ela disse que, naquela noite, a polícia trocou tiros com uns bandidos. Papai foi ver o que estava acontecendo e acabou atingido por uma bala perdida. Ele ainda deu alguns passos, mas caiu na garagem, por cima de uma velha mesa. Fora este o barulho que eu escutara por último. Então me lembrei, nitidamente, que olhara o corpo caído no chão. Depois disso, só conseguia me lembrar de ter acordado hoje. Mamãe emendou: “Bom, nem preciso te dizer que deves fazer a lição de casa e arrumar o teu quarto, né, guri!?” Estava anoitecendo. Acompanhei Melissa até a porta. Ela pegou minha mão e disse: “Sabe que eu gostaria mesmo de voltar ao passado”. É, por quê? “Quem sabe eu poderia ser mais clara quanto aos meus sentimentos por você, e não teríamos nos tornado somente amigos”. Dito isso, deu-me um beijo no rosto e foi-se embora.
Um calorão me subiu pelo pescoço. Fiquei um tempinho parado, sentindo a umidade do toque dos seus lábios em minha face. Pela primeira vez, naquele dia, estava realmente muito feliz. Mas, então, lembrei-me do quadro e corri para a garagem. Mamãe não mexera em nada ali. Estava tudo igual àquela noite. Olhei demoradamente para o baú e para a poltrona onde papai estivera sentado. Então comecei a revirar tudo, todos os móveis, todas aquelas coisas antiquadas, até encontrar o quadro escondido atrás de um rádio muito antigo. Limpei a poeira e fiquei olhando o desenho de uma truta. Que coisa idiota, pensei. Ficar olhando essa moldura não vai adiantar nada. Dei mais uma volta pela garagem, observando os móveis. Bom, já fiz tanta coisa idiota hoje... não custa fazer mais uma. Voltei a olhar fixamente o quadro. Nada. Já estava ficando com sono quando uma coisa estranha começou a acontecer. O peixe começou a se mexer. Fiquei tonto e senti minha cabeça girar, até que adormeci.
Acordei dentro do baú, novamente com 10 anos. Papai estava lá, mexendo no laptop. Sem pestanejar, corri para o colo dele, dei-lhe um abraço demorado. Então me lembrei de onde eu estava e o que estava fazendo. Olhei para ele. Parecia assustado, mas contente em me ver. Perguntou o que eu estava fazendo ali. Disse que queria saber o que ele estava fazendo. Ele me mostrou. Estava no MSN com aquela tia maluca. Então ouvimos novamente o barulho. Papai quis levantar. Sabia que precisava impedi-lo. Então perguntei o que ele estava ouvindo no fone de ouvido. Mesmo demonstrando preocupação em saber o que estava acontecendo na rua, ele se sentou, deu um dos fones para mim e explicou que aquela era uma ópera chamada “A Truta”. Ele a estava escutando por curiosidade, porque a tia dera-lhe um quadro com o mesmo nome, e ele queria saber o que havia de especial naquela música. Sorri pensando que, dessa vez, a truta não morderia a isca. Então começou a piscar o aviso na tela do computador: “Desvende o mistério da Truta. Clique aqui.” Papai clicou. Era uma receita de um ótimo assado, segredo de família. Aparentemente, sua tia gostava de tudo que tivesse uma truta envolvida. Papai me levou para dentro de casa na sua garupa. Dormi muito feliz naquela noite, achando que tudo não passara de um sonho.
No domingo seguinte, estávamos jogando bola, eu e meu pai. Chutei a bola longe e fui buscá-la. Do outro lado da rua, havia um caminhão de mudança. Eram os novos vizinhos que estavam chegando. Uma menina da minha idade veio me trazer a bola. Agradeci e perguntei o seu nome. Muito sorridente, ela me disse: “Oi, meu nome é Melissa. E o teu?

Branca de Neve, Linda como o Ébano


Era uma vez, um vale encantado, conhecido por seu rio sinuoso, onde moravam Moacir e sua filha de 15 anos, Larissa. Ele era viúvo e descendia de uma linha de reis africanos. Ela perdeu a mãe muito cedo e se confortava ouvindo histórias de um tempo e um continente distantes. A cor de sua pele os tornava diferentes dos outros moradores da região, todos descendentes de alemães. Entretanto, a inteligência e simpatia faziam de Moacir um homem muito respeitado naquela comunidade. Tudo ia bem até que ele arrumou uma namorada, Marli, loira e muito bonita, mas muito vaidosa.
Quando mais nova, Marli fora eleita a mais bela do vale. Agora que estava novamente em evidência, resolveu fazer um novo concurso de beleza. Larissa ficou muito animada, não tanto pela competição, mas pela oportunidade de estar numa festa. Porém, como a madrasta não se dava muito bem com a enteada, criou uma regra: somente mulheres que tivessem a cor branca poderiam participar. A menina ficou muito triste. Mas suas amigas, inconformadas, bolaram um plano. Inscreveram-na com o nome de Branca de Neve. Assim, ela não poderia ser desclassificada, pois tinha a cor branca, pelo menos no nome. E lá se foi Larissa, desfilar na passarela. Marli ficou com muita raiva, pois, no fundo, temia ser derrotada justo pela filha de seu namorado.
E foi o que aconteceu. Branca de Neve foi aclamada a mais bonita mulher do vale. A megera ficou vermelha de raiva e questionou os jurados: “Vocês não estão vendo que ela é negra?” Ao que eles responderam: “O regulamento não diz nada sobre a pele. Somente que as candidatas deveriam ter a cor branca. E é o que ela tem no nome.” Marli não disse mais nada. Para Moacir, inventou a desculpa de que queria preservar a menina de olhares maldosos. Porém, o que ela desejava mesmo era matar a garota.
A inveja ia corroendo a madrasta. Passados alguns dias, ela contratou um pistoleiro para que matasse Branca de Neve e sumisse com seu corpo. Ele aceitou o serviço, pois não sabia que se tratava de sua amada, Larissa. Quando descobriu, recomendou que ela fugisse e se escondesse, pois sabia que Marli não iria desistir. Antes, porém, pegou o colar de seu pescoço, a fim de apresentar à malvada como prova da execução do crime. A menina não tinha onde se esconder. Ficou perambulando pela mata, até encontrar uma casa onde moravam sete irmãos. Eles trabalhavam na roça, o dia inteirinho. Por isso, a casa vivia bagunçada. Então resolveram acolhê-la, desde que lavasse, passasse e cozinhasse para eles. E assim viveram por longos anos.
As coisas começaram a mudar no vale quando Moacir, que fizera de tudo para encontrar sua filha, foi entristecendo até morrer. Única herdeira, Marli tornou-se a mulher mais popular da região. E tornou-se também a mais rica, aumentando sua fortuna com uma empresa de eventos. Os mais apreciados eram os concursos de beleza. Mas ela sempre dizia que eram para escolher a segunda mulher mais bonita das redondezas (a primeira, obviamente, era ela). Como não havia mais negros, as pessoas foram esquecendo como era viver com o diferente. A contínua promoção de disputas e competições tornou o povo mesquinho. Mesmo as amigas de Larissa começaram a aceitar em seu grupo somente aquelas que se vestiam igual a elas, ou então tivessem olhos tão clarinhos quanto os seus. O povoado do Vale do Rio Sinuoso, tão conhecido pela acolhida, passou a não fazer mais jus a sua fama.
Um belo dia, sentindo saudade do pai, Larissa se disfarçou de camponesa e foi ao povoado, ver se o encontrava. Perguntou sobre o bom Moacir aos que passavam, mas ninguém lhe deu atenção. Estranhou a frieza do povo. Então encontrou um menino de rua e este lhe contou como tudo se transformara com o sumiço da menina negra e a morte de seu pai. Ela soltou um grito, sendo reconhecida pelo menino. Saiu correndo, desesperada, chorando. Nunca mais veria seu paizinho querido. Ficou três dias sem comer e sem fazer o serviço de casa. Os sete irmãos tentaram animá-la, mas ela não saía de seu quarto. Enquanto isso, Marli ficou sabendo que sua enteada estava viva. E o pior... Outras pessoas também sabiam. Era necessário tomar providências.
A malvada contratou homens acostumados com a mata para localizar Larissa. Logo a encontraram na casa dos sete irmãos. A madrasta decidiu fazer ela mesma o serviço. Disfarçou-se de anciã e dirigiu-se, escondida, à mata. Do lado de fora da casa, gritou que conhecia Moacir. A menina abriu a porta mais do que depressa. Foram conversando, Marli foi elogiando a beleza da moça, fazendo de tudo até ganhar sua confiança. De repente, puxou um pedaço de pau e bateu na cabeça dela, que caiu desacordada. Ouvindo passos, a vilã saiu correndo. Eram os sete irmãos que, felizmente, voltavam mais cedo para casa. Levou um tempo para que a garota acordasse. A madrasta voltou para casa, sem ter certeza de ter matado a jovem. Porém, assim pensava, só o susto já deveria ser o suficiente para mantê-la longe do vilarejo.
Mas Larissa ficou revoltada. Essa mulher tinha destruído sua vida, matado seu pai de desgosto e transformado o vale em um lugar frio e triste. Como sentia que não tinha mais nada a perder, resolveu acabar com isso. Voltando à vila, soube que um concurso se aproximava. Procurou conhecer as regras (agora era proibida a participação de mulheres negras) e bolou um plano. Pintou sua pele de branco, ficando bem mais alva do que as próprias habitantes da região. Mudou seu nome para Alice e se inscreveu no evento. Quando a viu na passarela, Marli a reconheceu. Mas não podia revelar sua identidade porque temia o escândalo. O tempo foi passando, e a vilã pensava em como se livrar do problema. Então começou a chover. A tinta escorria da pele de Larissa. Alguém gritou: “Vejam... É Branca de Neve!” O povo se alvoroçou, mas, antes que alguém pudesse falar alguma coisa, a madrasta pulou em cima dela tentando sufocá-la.
Foi quando apareceram os sete irmãos, que na verdade eram sete ex-maridos da malvada. Ela havia acabado com a vida de todos. Os mais velhos foram reconhecendo os sete homens. Todos eles eram pessoas influentes do passado do vale. Até então, ninguém entendera por que eles haviam sumido. Mas as pessoas, lentamente, foram relembrando os fatos. Essa mulher havia destruído a família e a vida de todos eles. Furioso, o povo colocou Marli para correr, e uma guarda foi montada no vale, a fim de manter a vilã sempre longe, e também de descobrir quem eram seus ajudantes.
E a história está prestes a terminar, mas parece que falta alguma coisa... Ah, sim! Não tendo mais que se esconder, e linda (e rica) como era, Larissa foi procurada por vários pretendentes. Agora, ela possuía sete pais. Conforme eles foram refazendo sua vida, ela foi adquirindo também novas mães (mas todas eram muito boas). Nenhum dos rapazes, porém, chamava a atenção dela. Até que apareceu um lindo moço, cujo olhar não lhe era estranho. Ele puxou um saquinho de joias e mostrou-lhe algo que fez seu coração acelerar. Era o colar que ela ganhara de herança de sua mãe, o mesmo que o pistoleiro levou como suposta prova de sua morte. Ela, então, reconheceu o rapaz, e ele declarou seu amor. Disse que não conseguia se desfazer do colar, que pensava nela todos os dias, e que nunca mais havia matado alguém, ou usado uma arma, depois daquele encontro. Então, ela pegou sua mão e sorriu. Sabia que não era branca como a neve, mas isso não importava, porque Moacir (por uma dessas coincidências da vida, este era também o nome do rapaz) disse-lhe que era linda como o ébano. E aí, enfim, todas e todos viveram felizes para sempre. FIM.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Ester e a Marcha contra a Violência

Foi com muita satisfação que recebi, faz alguns dias, um convite para, em nome do CEBI (Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos), participar do encontro regional de avaliação e planejamento da campanha contra a violência e extermínio de jovens. Contextualizando, é uma iniciativa nacional das PJs (Pastorais da Juventude) da ICAR (Igreja Católica Romana). No fim das contas, é o reconhecimento de um trabalho, pois tenho me empenhado muito para disseminar uma Cultura de Paz nos cursos trabalhados Rio Grande do Sul afora.

Essa campanha tem agitado a ala jovem política e socialmente engajada da Igreja. Trata-se de protagonismo legitimamente juvenil. O assassinato do Pe. Gisley, assessor nacional do Setor Juventude, alavancou-a ainda mais, fazendo com que ganhasse notoriedade dentro e fora das instâncias religiosas. Graças à propaganda alternativa (leia-se: “mídias digitais”), o seu cartaz de divulgação já apareceu até no horário nobre das novelas brasileiras. Porém, o movimento, que iniciou como uma marcha, precisa avançar ainda mais. Por isso, vejo com bons olhos esses momentos de parada e reflexão.

Como real interessado em hermenêuticas juvenis, chamo especial atenção para o referencial bíblico. De fato, é um texto emblemático: “O meu desejo é a vida do meu povo” (Est 7,3). Que forte! Bela frase de efeito... Visto fora de seu contexto (ou até mesmo por “meias” contextualizações) é fantástico! Ainda mais vindo da boca de uma jovem. Aparentemente, um belo exercício de protagonismo juvenil. Porém...

Estudando um pouco mais atentamente o livro de Ester, perceberemos o quanto é ilusório o poder da personagem principal. Com sua beleza, ela seduz o rei Assuero. Mas sua participação termina aí. Quem decide a estratégia, o “como fazer”, o modo e o momento certo de interceder pelo povo é seu primo, Mardoqueu. Ele é a mente pensante por trás do audacioso plano. Só não o executa por não ter tantos “dotes” quanto sua prima (sobre o parentesco das personagens, cf. Est 2,7a).

Os autores do livro, escrito à época do domínio persa (isto é, pós-Exílio na Babilônia), parecem demonstrar certa simpatia pelo império. De fato, uma parte do povo (casualmente a parcela cujos pais exilados haviam sido grandes proprietários de terra em Israel) reverenciava o rei Ciro como enviado de Javé (2Cr 36,22-23; Is 45,1.13). O Templo foi reconstruído com a condição de que se rezasse também pelo rei (Esd 6,10). Ter colocado o nome das divindades babilônias nas personagens principais (Ester vem de Ishtar; Mardoqueu, de Marduc) só corrobora com essa suspeita. É como se hoje eles se chamassem Dolar-eu e Hollywoodina.

Justiça seja feita, o texto procura demonstrar que postura se deve tomar diante de um líder tão forte e violento quanto Assuero (Xerxes I, filho e sucessor do rei Dario). O profeta Jeremias já havia dado essa dica: “Procurai a paz da cidade para onde eu vos deportei” (Jr 29,7). O livro, de fato, parece ser um “manual” para os judeus da diáspora (isto é, dispersos por outras regiões do império que não Israel). Aceita submissamente a escravidão (Est 7,4 – apenas um versículo após o referencial da campanha). Anima o povo a conviver com seus vizinhos, mas guardar a lei e os preceitos judaicos. Instiga a esperança numa reviravolta que traga novamente os tempos de glória do império israelense (Mardoqueu torna-se o segundo em comando [Est 8,1-2], de forma similar a José do Egito [Gn 41,39-40]), com direito a vingar-se dos inimigos (Est 8,10-11).

A narrativa é ótima para tempos de perseguição brutal. Mas cá entre nós... cuidado para não comprarmos o livro todo só pela capa, isto é, por um versículo. Lendo atentamente o capítulo 4, perceberemos que Ester não tinha lá muita intenção, a princípio, de salvar o seu povo. Foi preciso um “forte argumento” de seu primo Mardoqueu para que ela se mexesse. Outra coisa... a vingança não é lá uma atitude muito propícia à superação da violência. De que maneira podemos ler o novo edito do rei, dando aos judeus o mesmo direito de matar que antes fora determinado contra eles? Este é o real perigo de “pinçar” jovens na Bíblia, em vez de fazer uma leitura juvenil das Escrituras. Para justificar nossas escolhas, vemo-nos forçados a pintá-los como heróis, ou então pintar os verdadeiros heróis e heroínas como jovens.

O que podemos tirar de positivo do livro de Ester é que o império persa não era, no fim das contas, tão bom quanto se dizia. Trouxe sim a liberdade de expressão religiosa aos povos dominados. Permitiu-lhes, também, voltar à sua terra de origem. Mas tudo era apenas parte de um plano, uma nova forma de dominar. Não temos hoje também a ilusão de um tempo bom, enquanto Mariazinhas e Joõezinhos continuam tombando em berço esplêndido?

Outra coisa... o grupo de Ester e Mardoqueu organiza sua resistência infiltrando-se nas esferas do poder. Esse me parece o papel das/os jovens no CONJUVE, não!? Existem outros espaços que já estamos galgando, ou que ainda podemos conquistar? Que forças nos impedem de termos participação mais efetiva nas decisões da sociedade? Podemos dizer que exercemos, de fato, um genuíno protagonismo juvenil, ou ainda dependemos da autoridade adulta para “legitimar” nossas ideias? Essa pergunta serve também para o âmbito eclesial. Estamos, ainda, na dependência de um apoio clerical (leia-se: “de um padre”) para sermos ouvidos, ou somos respeitados “apesar” de nossa condição juvenil?

Essas são apenas algumas questões que me vêm à cabeça sem precisar recorrer a personagens jovens na Bíblia. Outras perguntas podem ser feitas (e espero que sejam). O livro de Ester não tem resposta para todas. Mas pode muito bem nos colocar a caminho. Creio que, indo por esse viés, aí sim teremos escolhido uma ótima iluminação bíblica para a nossa marcha.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Começando a 'P'rosa

Olá, 'p'essoas!


Sou o 'P'ossato Jr. e, por este blog, pretendo tratar de todas as minhas 'p'aixões. O objetivo é escrever sobre tudo o que gosto e 'p'enso, indo sempre direto ao 'p'onto.


Além de 'p'ai de família, 'p'aulista e funcionário 'p'úblico, sou 'p'romotor da leitura 'p'opular juvenil (pelo CEBI) e 'p'ejoteiro. Em breve, também 'p'rofessor de Língua 'P'ortuguesa.


Quero, ainda, encontrar espaço aqui para falar de futebol (mas engana-se quem pensa que eu sou 'p'almeirense; eu sou corinthiano, viu!?).


Enfim... sendo em 'p'rosa ou 'p'oesia, eis-me aqui!


Respeitável 'p'úblico, com vocês: O 'P' DA LETRA.