quinta-feira, 30 de maio de 2013

Enfim, Diplomado!

Colocando, finalmente, os pés no chão, volto a publicar neste espaço. Vivi uma experiência fantástica, minha formatura. Agora, sou graduado em Letras - Português. Entre tantos momentos maravilhosos, tive o prazer de ser o orador da turma. Eis o...

DISCURSO P/ FORMATURA DO CURSO DE LETRAS

Magnífico Sr. Reitor, aqui representado pela Sra. Diretora do Polo Novo Hamburgo, Tereza Dela Pace, professoras, colegas, familiares e demais aqui presentes, boa noite! Finalmente, é chegado o grande dia. Três anos, muitas provas e noites brigando contra o tempo, a conexão ou a plataforma congestionada (todo mundo deixando para postar na última hora), inúmeras idas e vindas a Novo Hamburgo e cinco gravidezes depois (é, senhoras e senhores, esse curso foi muito fértil, em todos os sentidos, mas, enfim...), aqui estamos nós.

Gostaria de poder dizer: “Tamo junto!” Porém, uma das primeiras coisas que aprendemos foram os níveis de linguagem. “Tamo junto” pode não estar errado, dentro do processo comunicativo, mas é inapropriado para o contexto. Por isso, em respeito a este ato solene, limito-me a dizer: “Como é bom partilhar este momento de intensa alegria com as senhoras e senhores, estimados colegas”. Entretanto, quando sairmos daqui e formos festejar com nossos parentes e amigos, poderemos dizer: “Que tri viver isso com vocês!”

Lembram-se, colegas, nosso primeiro dia de aula? Fizemos uma apresentação e externamos nossas expectativas. Uns diziam, quase chorando: “Não quero lecionar para os ‘maiorzinhos’.” Outros, ao contrário, preferiam não lidar com os anos iniciais. Um de nós, inclusive (este que vos fala), queria ser escritor. Como é bom relembrar isso agora. Será que mantivemos nossos ideais? Ou construímos novos planos? Seja como for, nós, que estamos vivenciando este momento, continuamos com uma meta. Estar aqui é cumprir a primeira etapa. Vamos relembrar o que aconteceu?

O curso foi bom, mas nos deu uma tremenda dor de cabeça. Há quem ainda trema ao simples pronunciamento da palavra “latim”. Umas e outros sofreram com o uso da crase e dos porquês. A linguística vai deixar alguns sem dormir direito por mais uns dias. E o novo acordo ortográfico? O trema se foi e não deixa saudade. Mas como saber, agora, o que se escreve junto ou separado? Vai hífen, não vai? Fora outras disciplinas. Eu, por exemplo, já deixei de orar, antes das refeições e de dormir, porque fico me perguntando: “Seria esta uma oração coordenada? Sindética ou assindética? Ou seria subordinada substantiva objetiva direta e/ou indireta?” Ah, como a vida era simples...

Não pensem, entretanto, que estou me queixando. Creio representar a turma quando digo que estamos realizando um sonho. A maioria, inclusive, já lecionava antes de iniciar o curso. Pensando bem, somos uns doidos. Só nós mesmos para pleitearmos a profissão de educadoras e educadores em um país onde a educação e a cultura não são valorizadas. Fazer o quê? Diz o ditado popular – e isso também é um saber: “o que é do gosto, é regalo da vida”.

Um ciclo termina, outro se inicia. O canudo é uma conquista mas também uma responsabilidade. Ao sair daqui, teremos a missão de levar o saber a nossos alunos. Aliás, desculpem-me... ato falho! Já se foi o tempo em que os alunos (do latim: os “sem luz”) deveriam recorrer ao mestre, detentor da sabedoria. Ouso dizer que a graduação em Letras nos trouxe uma grande e boa notícia: um novo conceito está surgindo. Educadores não portam luz; geram conhecimento. Quem se apropriar dessa novidade, sobreviverá aos desafios de lecionar no terceiro milênio.

Isso não quer dizer que o professor deve deixar de ensinar. Pelo contrário. O educador deve reaprender a lecionar, preocupado com o que o educando aprende, não só para passar de ano, mas para a vida. E o professor de Letras deve, sim, ensinar a ler. Mas, junto com as palavras, o educando precisa aprender a ler o mundo, a vida, a sociedade em que vive. Esse não é só o papel da Literatura, mas de qualquer conteúdo programático de um bom professor, uma boa professora de Língua Portuguesa. Que me perdoem os desafetos de Paulo Freire, mas não posso deixar de citá-lo: “Não basta ler mecanicamente ‘Eva viu a uva’. É preciso compreender qual a posição que Eva ocupa no seu contexto social, quem trabalha para produzir a uva e quem lucra com esse trabalho”.

Bom, colegas, não quero assustá-los. Hoje é dia de festa. Sei que todos estão cientes do que nos aguarda. Semana passada, houve um concurso do Estado para o Magistério. Espero, sinceramente, que continuemos juntos, dessa vez como profissionais. Festa hoje, festa sempre. Festa não é sinônimo de irresponsabilidade, mas de alegria. Lecionar deve ser um ato de extrema alegria, senão vamos continuar contribuindo para o descaso cultural e sistêmico com a educação. Só nós podemos mudar o mundo. E faremos isso mudando as pessoas, a começar por nós mesmos. Desejo, às senhoras e senhores, sucesso!

Por fim, peço que todos baixem suas cabeças, pois faremos uma oração... coordenada assindética aditiva: “Vim, vi, venci!” Muito obrigado!

Ulbra – Canoas, 25 de maio de 2013.