DISCURSO P/
FORMATURA DO CURSO DE LETRAS
Magnífico
Sr. Reitor, aqui representado pela Sra. Diretora do Polo Novo Hamburgo, Tereza
Dela Pace, professoras, colegas, familiares e demais aqui presentes, boa noite!
Finalmente, é chegado o grande dia. Três anos, muitas provas e noites brigando
contra o tempo, a conexão ou a plataforma congestionada (todo mundo deixando
para postar na última hora), inúmeras idas e vindas a Novo Hamburgo e cinco
gravidezes depois (é, senhoras e senhores, esse curso foi muito fértil, em
todos os sentidos, mas, enfim...), aqui estamos nós.
Gostaria
de poder dizer: “Tamo junto!” Porém, uma das primeiras coisas que aprendemos foram
os níveis de linguagem. “Tamo junto” pode não estar errado, dentro do processo
comunicativo, mas é inapropriado para o contexto. Por isso, em respeito a este
ato solene, limito-me a dizer: “Como é bom partilhar este momento de intensa
alegria com as senhoras e senhores, estimados colegas”. Entretanto, quando
sairmos daqui e formos festejar com nossos parentes e amigos, poderemos dizer:
“Que tri viver isso com vocês!”
Lembram-se,
colegas, nosso primeiro dia de aula? Fizemos uma apresentação e externamos
nossas expectativas. Uns diziam, quase chorando: “Não quero lecionar para os
‘maiorzinhos’.” Outros, ao contrário, preferiam não lidar com os anos iniciais.
Um de nós, inclusive (este que vos fala), queria ser escritor. Como é bom
relembrar isso agora. Será que mantivemos nossos ideais? Ou construímos novos
planos? Seja como for, nós, que estamos vivenciando este momento, continuamos
com uma meta. Estar aqui é cumprir a primeira etapa. Vamos relembrar o que
aconteceu?
O
curso foi bom, mas nos deu uma tremenda dor de cabeça. Há quem ainda trema ao
simples pronunciamento da palavra “latim”. Umas e outros sofreram com o uso da
crase e dos porquês. A linguística vai deixar alguns sem dormir direito por
mais uns dias. E o novo acordo ortográfico? O trema se foi e não deixa saudade.
Mas como saber, agora, o que se escreve junto ou separado? Vai hífen, não vai? Fora
outras disciplinas. Eu, por exemplo, já deixei de orar, antes das refeições e
de dormir, porque fico me perguntando: “Seria esta uma oração coordenada?
Sindética ou assindética? Ou seria subordinada substantiva objetiva direta e/ou
indireta?” Ah, como a vida era simples...
Não
pensem, entretanto, que estou me queixando. Creio representar a turma quando
digo que estamos realizando um sonho. A maioria, inclusive, já lecionava antes
de iniciar o curso. Pensando bem, somos uns doidos. Só nós mesmos para
pleitearmos a profissão de educadoras e educadores em um país onde a educação e
a cultura não são valorizadas. Fazer o quê? Diz o ditado popular – e isso
também é um saber: “o que é do gosto, é regalo da vida”.
Um
ciclo termina, outro se inicia. O canudo é uma conquista mas também uma
responsabilidade. Ao sair daqui, teremos a missão de levar o saber a nossos
alunos. Aliás, desculpem-me... ato falho! Já se foi o tempo em que os alunos
(do latim: os “sem luz”) deveriam recorrer ao mestre, detentor da sabedoria.
Ouso dizer que a graduação em Letras nos trouxe uma grande e boa notícia: um
novo conceito está surgindo. Educadores não portam luz; geram conhecimento.
Quem se apropriar dessa novidade, sobreviverá aos desafios de lecionar no
terceiro milênio.
Isso
não quer dizer que o professor deve deixar de ensinar. Pelo contrário. O
educador deve reaprender a lecionar, preocupado com o que o educando aprende,
não só para passar de ano, mas para a vida. E o professor de Letras deve, sim,
ensinar a ler. Mas, junto com as palavras, o educando precisa aprender a ler o
mundo, a vida, a sociedade em que vive. Esse não é só o papel da Literatura,
mas de qualquer conteúdo programático de um bom professor, uma boa professora
de Língua Portuguesa. Que me perdoem os desafetos de Paulo Freire, mas não
posso deixar de citá-lo: “Não basta ler mecanicamente ‘Eva viu a uva’. É
preciso compreender qual a posição que Eva ocupa no seu contexto social, quem
trabalha para produzir a uva e quem lucra com esse trabalho”.
Bom,
colegas, não quero assustá-los. Hoje é dia de festa. Sei que todos estão
cientes do que nos aguarda. Semana passada, houve um concurso do Estado para o Magistério.
Espero, sinceramente, que continuemos juntos, dessa vez como profissionais.
Festa hoje, festa sempre. Festa não é sinônimo de irresponsabilidade, mas de
alegria. Lecionar deve ser um ato de extrema alegria, senão vamos continuar
contribuindo para o descaso cultural e sistêmico com a educação. Só nós podemos
mudar o mundo. E faremos isso mudando as pessoas, a começar por nós mesmos.
Desejo, às senhoras e senhores, sucesso!
Por
fim, peço que todos baixem suas cabeças, pois faremos uma oração... coordenada
assindética aditiva: “Vim, vi, venci!” Muito obrigado!
Ulbra
– Canoas, 25 de maio de 2013.
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