Foi para a liberdade que Cristo nos libertou (Gl 5,1). Todavia, decidimos que nem todos seriam livres. Coisificamos e escravizamos
nossa irmã, nosso irmão, vendendo-os para o tráfico humano (Gn 37,27-28). E
quando Javé perguntou onde eles estavam, respondemos soberbamente: “Acaso sou o guarda-costas de meu irmão?”
(Gn 4,9).
Foi para a liberdade que Cristo nos libertou. Mas, pela nossa ganância ou omissão, essa gente foi escravizada e
condenada a trabalhos forçados, à prostituição, a ver seus órgãos vitais e suas
crianças serem tratados como mercadorias, enfim, a todo tipo de exploração.
Foi para a liberdade que Cristo nos libertou. Entretanto, o tráfico humano é mais
presente e está mais perto de nós do que imaginamos. Sua raiz encontra-se nas
desigualdades sociais, no acúmulo que gera a riqueza de uns e a miséria de dois
terços da população mundial. Para estes, falta moradia, teto, comida, falta
tudo. Quem são? Olhe pela janela! Há uma forte candidata, um forte candidato a
se vender por comida bem aí na tua porta.
Foi para a liberdade que Cristo nos libertou. Contudo, ceifamos vidas cada vez mais
jovens para atender a um mercado cada vez mais exigente e voraz. Boa parcela da
juventude carrega em si a vitalidade, a beleza, a volúpia, a ingenuidade e a
pobreza necessárias para evitar questionamentos e satisfazer o público que
procura esse “negócio”.
Foi para a liberdade que Cristo nos libertou. Porém, em vez da
liberdade, escolhemos a escravidão da idolatria. Em vez da partilha, o acúmulo;
em vez do serviço, o poder; em vez da fraternidade, a exploração; em vez da
solidariedade, a competição desumana; em vez do ser, o ter a qualquer custo; em
vez de Javé – o Deus dos pobres –, o dinheiro.
Foi para a liberdade que Cristo nos libertou. Mas nos libertou do quê? Paulo inicia sua
carta aos gálatas dizendo que fomos libertos de um “mundo mau” (Gl 1,4). Que
mundo? Ora, o mundo dos homens, pensado em formato de pirâmide. No novo mundo,
porém, não há opressor nem oprimido, judeu nem grego, escravo nem livre, homem
nem mulher, pois todas e todos somos um só em Cristo Jesus (Gl 3,28).
Foi para a liberdade que Cristo nos libertou. Sabemos que somos livres quando é o
Espírito que conduz nossas ações. Quando nos deixamos escravizar por nossos
instintos egoístas, podemos manipular a Lei, mas não o Espírito! Este sempre
nos leva à caridade, que é abrir mão dos interesses próprios em favor do bem
comum (Gl 5,16). Quantas cristãs, quantos cristãos se sentem salvos e se julgam
superiores porque nunca faltam aos cultos e missas? No entanto, decorar o
número do disque-denúncia é o máximo que podem fazer pelos “desgraçados”
(literalmente, os “fora-da-graça”, aquela gente que nega a Deus e, por isso,
merece[?] sofrer). Seres humanos passando fome? Isso é falta de fé! Pode ser...
Mas, se a fé faz agir pela caridade (Gl 5,6), falta fé para quem mesmo?
Foi para a liberdade que Cristo nos libertou. E ela é um sonho possível ainda nesta
terra, aqui e agora. Que tal batalharmos por um mundo onde não haja mais pobres
(Dt 15,4), onde tenhamos tudo em comum (At 4,32)? É possível? Como? Quem
precisa ceder? E se ninguém ceder, o que nos inspira o Espírito? Como conseguir
que uns abram mão do que têm em excesso para que outros possam ter o que
precisam? Por outro lado, como organizar o povo para que sobreviva? Como
impedir que nossa gente seja levada pelo tráfico? As experiências bíblicas do
Êxodo e do Exílio têm algo que nos ajude nesse sentido? De que forma os
profetas nos ensinam a lutar? O que podemos aprender com as primeiras
comunidades cristãs, presentes nos livros do 2º Testamento?
Foi para a liberdade que Cristo nos libertou. Pensemos, planejemos, façamos! Somos a
sociedade das filhas e filhos de Deus, amém!
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