Esse
tempo de quarentena tem sido rico em procrastinação. E por isso aqui estou eu.
Em vez de dar atenção a assuntos importantes, como o meu doutorado, estou agora
querendo extravasar a minha ira por ter ouvido, na primeira hora do dia, um
boçal dizer que, se fôssemos governados pela esquerda, a situação estaria pior.
Buenas...
Será preciso demonstrar a diferença de tratamento da pandemia entre a comunista
China e o capitalista EUA? E o pior: como alguém bem lembrou, o país da
liberdade só liberta o mundo dos malvados comunistas nos filmes. Na realidade,
como diz a canção: “O presidente dos Estados Unidos protege o mundo livre do
mundo preso, e prende quem for preciso pra não deixar o presidente indefeso”
(Nei Lisboa – Deu na TV). Aqui fora, no mundo real, não só os EUA têm que
recorrer aos comunistas chineses, como ainda confiscam sua ajuda a outros
países que sempre lhe serviram (ao Tio Sam) de capacho, de quintal.
Comunista,
aliás, como diria outro filósofo de internet (e nem sempre devemos descartar o
que eles dizem), na visão ultradireitosa, é todo aquele, toda aquela que
discorda do meu ponto de vista (Dória, o mais recente vermelhinho do pedaço,
que o diga!).
Pois
bem! Mas a China, dirão alguns, é comunista internamente, porque nas relações
exteriores se comporta como o mais sedento dos capitalistas. Então vamos lembrar
de Cuba, que mais uma vez está exportando médicos. Sua ajuda chegou a ser
cogitada no Brasil. Preciso dizer por que a proposta não foi adiante? E
enquanto os EUA dão a volta em seu “parceiro” do talkey, a Rússia manda ajuda
para a Venezuela. Enquanto nos outros países o Estado socorre até mesmo financeiramente
sua população, no nosso a ajuda veio a jato para os bancos, ao passo que os míseros
R$ 600,00 (é bom lembrar que o governo queria dar somente R$ 200,00) destinados
à parte mais pobre da população precisam passar por um incansável processo
burocrático antes de serem liberados. E a oposição ainda precisou fazer pressão
para que os bancos não tomassem, desse dinheiro, o que os pobres lhe “devem”. Mas
a cereja do bolo é o Guedes muquirana (com as pessoas, não com os bancos e
megaempresários) ficar ainda misereando a compra de testes e equipamentos para
o enfrentamento da pandemia.
Como se
nada disso bastasse, olhe para as propostas da direita. Aliás, a proposta:
vamos salvar a economia. Do outro lado, todas as ideias vão no sentido de
salvar as vidas primeiro. Mas os mal intencionados, ecoados por gente que há
muito perdeu qualquer noção da realidade, resolveram dizer por aí que tudo isso
é fruto de um plano global para derrubar nosso Presidento. Resumindo, o mundo
todo está apavorado com uma doença que veio do Oriente comunista com o único
intuito de ferrar com o dirigente brasileiro.
Quero
dizer, por fim, que estou usando aqui os termos comunismo e capitalismo como o
senso comum do momento os têm utilizado. Eu sei, qualquer pessoa minimamente
informada sabe que há outros matizes, outras nuanças na aquarela política e econômica.
Não me surpreende que quem só enxerga em seu espectro duas cores – verde e
amarelo (misturados) de um lado e vermelho do outro – encontre agora, no meio
do furacão, energia para atacar os partidos de esquerda (e os nem tão de
esquerda assim, como no caso Witzel, por exemplo). É uma maneira de aliviar a
própria consciência por ter eleito uma besta para liderar nossa nação. Eu
entendo, e é justamente isso que me deixa mais indignado.
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