De todas as
causas pelas quais lutaram nossos modelos de virtude do passado, qual delas é
mais ecumênica do que o amor não somente pela humanidade, mas por tudo que
compõe o Universo? Francisco de Assis merece muito mais do que um texto
requentado (estou agora, na verdade, reescrevendo uma ideia publicada
originalmente <aqui>), mas o importante é fazer memória deste 04 de outubro, dia
do poverello.
Reza a lenda
que o jovem rico Giovanni di Pietro di Bernardone inicia a trajetória que o
levará a se tornar Francisco de Assis quando encontra, à beira do caminho, um
leproso. Ao longo de sua vida, deve ter encontrado inúmeros homens e mulheres
nessa situação. Os biógrafos dizem que ele tinha verdadeiro horror de presenciar
essas pessoas se desmanchando ao ar livre. Só que, buscando imitar a Cristo,
sente a necessidade de vencer esta barreira. Quem já havia se despido literalmente
de tudo para viver o Evangelho não tinha mais nada a perder, senão o próprio
asco. O homem na estrada é sua oportunidade, e ele a abraça – e beija.
A exemplo de
tantos relatos bíblicos em que Jesus cura os leprosos, Francisco não perguntou
pela religião do homem. Não pediu que ele primeiro acreditasse na santa Igreja e
confessasse sua fé em Cristo para poder ajudá-lo. Verdade seja dita, não operou
nenhum milagre; pelo menos, não no doente. O que mudou foi seu interior.
Vencido o nojo, pôde enfim abraçar integralmente sua vocação.
Outro episódio
revelador é a contemplação da Cruz de São Damião. Diante dela, não
sente vontade de ajudar na liturgia, nas pastorais, nos ministérios da Igreja
(funções às quais, diga-se de passagem, os leigos só tiveram acesso após o
Concílio Vaticano)… Antes, dedica radicalmente sua vida aos mais pobres, que não
tinham direito a nada, nem à religião, nem mesmo à vida.
Tomado pelo
verdadeiro amor universal, declarou o sol e a lua, a Terra e até mesmo a morte
como irmãs e irmãos. Ninguém viveu melhor do que ele a oykoumene (casa
comum). Nem mesmo os grandes predadores (que podem ser tanto os poderosos
políticos, latifundiários, grandes empresários, como leões, serpentes, lobos,
etc.), que também não perguntam pela fé de suas vítimas. Ele elevou a máxima de
não fazer acepção de pessoas (Gl 2,6) à missão de amar todas as
criaturas.
Essa
recordação se faz necessária nos dias que estamos vivendo. Demarcação indígena
pra quê, se o que importa são os minérios debaixo da Terra? Direitos Humanos,
só se for para humanos direitos (nada de direitos pros manos, talkey?). Nada
contra relacionamentos homossexuais, desde que não fiquem de safadeza em
público e não adotem nossas crianças. Os trabalhadores devem decidir entre
salário de fome e poucos direitos, ou nenhum salário e nenhum “privilégio”.
Mulher tem que ganhar menos porque engravida. Trabalho infantil não faz mal. A Terra
é plana...
Sem uma visão
macroecumênica, sem abraçar a todas como irmãs (inclusive a irmã Amazônia) e a
todos como irmãos, não deixaremos apenas de ser cristãs e cristãos; deixaremos
de existir.
Ousando ser como Francisco, cantemos:
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