A
última postagem de 2018 bem podia ser um desejo de Boas Festas, ou de um Feliz
2019, mas...
Tive
conhecimento hoje de uma notícia publicada em 13/12/2018 no G1,
sob o título "MEC
propõe prova como a da OAB para professores atuarem no ensino básico" (leia aqui na íntegra).
Como
bem colocou uma colega de magistério, já existe um mecanismo de
avaliação: chama-se CONCURSO! Isso mesmo! Aquele exame que anda tão "esquecido"
pelos nossos governantes. Ainda segundo ela: "Nosso país, na área da
educação, não precisa de cobrança, precisa de recurso, precisa de respeito, de
reconhecimento."
Partilho de sua indignação! O tempo todo o discurso da elite
busca convencer a população de que nós, professoras e professores, não sabemos
o que estamos fazendo em sala de aula. Felizmente, temos os estudantes como
testemunhas. Eles e elas sabem o que fazemos e, de muitas formas, dão mostras
desse reconhecimento. Foi pensando nisso que escrevi o meu discurso de
paraninfo, proferido na última sexta-feira (28/12).
Gostaria, portanto, de deixá-lo aqui, desejando entrar
no Ano Novo com outro tipo de mensagem, algo que contemple o que foi meu
2018 e partilhe o que espero não só de meus estudantes, mas de todas e de todos
à minha volta em 2019. Boa leitura e... Vamos à luta!!!
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Queridas jovens, queridos jovens, peço a
vocês, razões desta solenidade, licença para dizer, ainda, algumas palavrinhas.
Espero não seja algo do tipo “última aula”. Alguns de nós, professoras e
professores, temos esse costume de querer transformar qualquer momento em uma
oportunidade de aprendizado. Mas... Chega, né!?
Falo especialmente por minha experiência
com o noturno. Nunca vi jovens tão ansiosos pelo fim de uma etapa. Algo
preocupante e incompreensível para nós, adultos que olhamos com saudosismo para
o que chamávamos de colegial. Vai aí, claro, um certo distanciamento. O tempo
passa... Temos o costume de enaltecer os tempos idos
e criticar ferozmente o momento presente. Mas falo em comparação com as turmas
anteriores. Vejo um crescente desejo de sair logo da escola.
Vivemos, obviamente, um processo contínuo
de aceleração. Tudo é muito conectado, muito online. Pensemos no videogame.
Os jogos exigem respostas rápidas, do tipo “atire primeiro, pergunte depois”. O
computador vai propondo missões, aumentando o grau de dificuldade, jorrando
problemas para resolvermos. E nós? Nós não vivemos, apenas reagimos, sobrevivemos.
Sem perceber, somos treinadas e treinados
diariamente para realizar tarefas. Cadê de parar e refletir? Não dá tempo! Há
um inimigo logo ali! Tantos tiros, tantos pontos. A tela mostra, implacável e
instantaneamente, a nossa performance.
E o pior: o resultado nunca é satisfatório. Estamos sempre sob pressão. E assim
jogamos o que deveria ser apenas um entretenimento como se disso dependessem
nossas vidas.
Talvez por isso cada geração queira mais
rapidamente o fim das missões, digo, das etapas. E esse resultado, digo, essas
notas que não saem logo? Posso dizer, aqui, caros formandos, o que se dizia em
sala de aula sobre os professores que não divulgavam as notas logo depois da
prova? O nível de ansiedade é absurdo! Antes tínhamos estudantes que, no auge
daquela explicação tri complexa, erguiam a mão para romper o silêncio e dizer
essas sábias palavras: “Posso ir ao
banheiro?” Hoje, a pergunta que mais se ouve é: “Que aula a gente tem depois?” Ou pior: “O que nós tem depois?”
Jovens, por favor... Vivam o presente! Pode
não ser maravilhoso... Vocês mesmos são testemunhas do que estamos vivendo. Há
décadas que o ensino vem sendo sucateado, que não só os professores, mas a
escola como um todo vem sendo desvalorizada. Aliás, vai aqui o meu muito
obrigado a vocês! Quantas vezes foram compreensivos e ajudaram a escola a
atravessar tantas turbulências. Eu mesmo presenciei estudante brigando nas
redes sociais e na porta da escola para defender os professores e a luta por
uma educação de qualidade. Meu desejo é que tenham aprendido com isso o quanto
é importante lutar não só pelo próprio umbigo, mas pelo bem de todas e de
todos.
O que fizemos (ou, pelo menos, gostaríamos
de ter feito) foi dar instrumentos para vocês navegarem. A física, para
calcular a velocidade, o tempo e o espaço de suas realizações. A biologia, para
testar a resistência do seu organismo. A química, para pensar todas as
combinações possíveis e saudáveis para que tenham energia. A matemática, para calcular
as probabilidades. A história, para que certos erros não se repitam. A
geografia, para saberem onde estão pisando. A filosofia e a sociologia, para
que pensem; não reajam apenas. A educação física, para explorarem os limites de
seus corpos. As linguagens, enfim, para que se comuniquem. A arte e, em
especial, a literatura – esse meu xodó –, para que
a imaginação seja sua bússola nessa nova caminhada.
Vocês estão prontas, vocês estão prontos!
Não se percam! Sejam felizes e, mais uma vez: Vivam o presente! Estejam com os
pés fincados no chão da realidade. Olhem o mundo à sua volta. Vocês estão
livres da escola, mas não da vida. Há um futuro imenso pela frente. Pode ser
grandioso, ou apenas uma sucessão de tempos. Isso depende, em grande parte, de
vocês. Se não entenderem o momento atual, se não buscarem respostas, não haverá
futuro com que sonhar. Avante, linda juventude do CAIC Madezatti (nome da escola)!
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