O roteiro a seguir foi
utilizado numa oficina da PJ-ICAR, mas poderá ser utilizado por grupos de
jovens de todas as denominações.
Seminário de abertura
dos 40 anos da PJ
São Leopoldo/RS – 09 e
10 de março de 2013
OFICINA DE BÍBLIA E
JUVENTUDES
(ASSESSOR: José Luiz
Possato Jr.)
PERGUNTA: Como se faz uma Leitura Popular e Juvenil
da Bíblia?
Exercício
=> Ler Ex 18,1-12 - 1 Jetro, sacerdote de Madiã e
sogro de Moisés, ficou sabendo de tudo o que Javé havia feito com Moisés e com
seu povo Israel: como Javé havia retirado Israel do Egito. 2 Quando
Moisés mandou sua mulher Séfora de volta, Jetro, sogro de Moisés, recebeu-a 3
junto com os dois filhos. Um deles se chamava Gérson, porque Moisés dissera: “Sou
imigrante em terra estrangeira”. 4 O outro se chamava Eliezer,
porque: “o Deus de meu pai é minha ajuda e libertou da espada do Faraó”.
5 Acompanhado da mulher e filhos de Moisés, Jetro foi encontrar-se
com ele no deserto onde estava acampado, junto à montanha de Deus. 6
Informaram a Moisés: “Sua mulher e seus dois filhos estão aí juntamente com
seu sogro Jetro”. 7 Moisés saiu para receber o sogro,
inclinou-se diante dele e o abraçou. Os dois se cumprimentaram e entraram na
tenda. 8 Moisés contou ao sogro tudo o que Javé tinha feito ao Faraó
e aos egípcios, por causa dos israelitas. Contou também as dificuldades que
tinham enfrentado pelo caminho e das quais Javé os havia libertado. 9
Jetro ficou alegre por todos os benefícios que Javé tinha feito a Israel,
libertando-o do poder egípcio. 10 E disse: “Seja bendito Javé,
que libertou vocês do poder dos egípcios e do Faraó. Ele arrancou este povo do
poder do Egito. 11 Agora eu sei que Javé é o maior de todos
os deuses, pois quando eles tratavam vocês com arrogância, Javé libertou o povo
do domínio egípcio”. 12 Depois, Jetro, sogro de Moisés, ofereceu
a Deus um holocausto e sacrifícios. Aarão e todos os anciãos de Israel foram e
fizeram a refeição com ele na presença de Deus. (versão Ed. Pastoral
online)
Questões:
1)
Que personagens aparecem
no texto?
2)
Quem são os
protagonistas? Algum/a deles é jovem?
3)
No v.6, quem é anunciado
primeiro a Moisés?
4)
Quem entra com Moisés na
tenda? O que fazem lá dentro?
5)
O que acontece com Séfora
e os filhos no fim da história?
6)
Em que momento/s a
juventude é deixada do lado de fora da tenda, isto é, fica excluída do núcleo
de tomada de decisões?
7)
Quando Jesus é questionado
por uma estrangeira (Mt 15,21-28), a postura decidida da mulher faz com que ela
seja notada, isto é, saia da marginalidade. Que outros trechos podem ser
citados nesse sentido?
8)
Como esses textos nos
ajudam no processo de empoderamento juvenil?
Mateus 15,21-28 - 21 Jesus saiu daí e foi para a região de Tiro e
Sidônia. 22 Nisso, uma mulher cananeia, que morava nessa região,
gritou para Jesus: “Senhor, filho de Davi, tem piedade de mim. Minha filha
está sendo cruelmente atormentada por um demônio.” 23 Mas Jesus
nem lhe deu resposta. Então os discípulos se aproximaram e pediram: “Manda
embora essa mulher porque ela vem gritando atrás de nós.” 24
Jesus respondeu: “Eu fui mandado somente para as ovelhas perdidas do povo de
Israel.” 25 Mas a mulher, aproximando-se, ajoelhou-se diante de
Jesus e começou a implorar: “Senhor, ajuda-me.” 26 Jesus lhe
disse: “Não está certo tirar o pão dos filhos e jogá-lo aos cachorrinhos.”
27 A mulher disse: “Sim, senhor, é verdade; mas também os
cachorrinhos comem as migalhas que caem da mesa de seus donos.” 28
Diante disso, Jesus lhe disse: “Mulher, é grande a sua fé! Seja feito como
você quer.” E, desde esse momento, a filha dela ficou curada.
Ajudando
a reflexão:
A
reunião de um grupo de homens numa tenda, com o intuito de fazer memória da
intervenção divina e honrá-la por meio de rituais e sacrifícios, indica-nos com
toda certeza que este é um texto de tradição sacerdotal. Portanto, trata-se de
um escrito do pós-Exílio, onde o poder interno, tanto político quanto religioso,
está centrado no Templo de Jerusalém. O domínio econômico e militar é exercido
por um imperador estrangeiro, não necessariamente o Faraó egípcio, mas
certamente um opressor indesejado. Nesse momento crítico, a memória do Êxodo
ajuda a animar a caminhada.
Porém,
na luta por libertação, de alguma forma, há sempre o risco de se reproduzir os
mecanismos da opressão. Assim, as mulheres e crianças (e podemos incluir aí os
jovens), mesmo que insistam em se fazer presentes (depois de Moisés ter
despachado Séfora e os filhos para a casa do sogro, ela bate novamente à “porta”
de sua tenda), são impedidos de participar das decisões.
Essa
dominação histórica atravessa os séculos até chegar aos tempos de Jesus e
encontrar uma mulher cananeia que questiona a estrutura e, com isso, muda a crença
e a trajetória do próprio Cristo. O texto de Mateus, escrito para judeus da
diáspora provavelmente, mostra o momento exato em que o Evangelho se abre aos
não-judeus, usando nada mais simbólico do que uma mulher estrangeira, ou seja,
uma personagem duplamente excluída pela sociedade judaica da época.
Chama
atenção a postura dos discípulos: “Manda embora essa mulher
porque ela vem gritando atrás de nós”
(v.23b).
Lendo as entrelinhas, é possível entender o seguinte: “Manda essa mulher embora porque a gritaria é grande e já desperta os
olhares dos demais. Mulher, criança e jovem têm que saber se pôr no seu devido
lugar. Que palhaçada é essa de ficar fazendo reivindicações? Já pensou se a
moda pega?” São tão próximos de Jesus que sofrem a tentação de querê-lo só
pra si. Não entendem que a Boa nova é para todos os povos.
O
próprio Jesus entende que a preferência é dos israelitas. Compara a mulher a um
cachorrinho, digno apenas do que “cai da mesa”. Porém, a reação dela o desarma
completamente. Em vez de protestar, ela procura demonstrar que nem o direito às
migalhas está sendo respeitado. Derrotado, não resta outra coisa além de
atender ao pedido.
É
interessante, ainda, notar o movimento de aproximação da mulher. Ela começa a
narrativa gritando. Ou seja, está tão longe (ou abafada?) que não é fácil escutá-la.
Porém, a insistência é tanta que começa a incomodar. Já não sendo possível
ignorá-la, nada mais impede que ela se coloque de joelhos aos pés de Jesus. O
desfecho é lindo, digno de um retrato. Mas um quadro imóvel não faria jus ao
que realmente está em jogo nesta cena: quando os espaços não são dados; devem
ser conquistados.
Hoje,
olhando a realidade de nossas jovens e nossos jovens, urge perguntar: Quais são
os seus espaços? A quais elas e eles têm direito? Estão sendo respeitados? O
jovem participa das decisões políticas do nosso país? O que é preciso fazer
para sair da invisibilidade? Buscar respostas para estas questões – e outras a
elas relacionadas – é fundamental para definirmos o norte da nossa caminhada.
Excelente reflexão! Vou reproduzir (dando créditos, claro) no blog da Comunidade Cristo Rei. Anbraços,
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