Tenho recebido muitos pedidos para estar em
“sintonia” com as/os jovens do 10º ENPJ (estar em oração, na verdade, com tudo
o que significa o ato de orar, mas “sintonia” deve ser um nome menos
“surrado”). Devo dizer que isso se faz mesmo necessário, pois um encontro
nacional requer mesmo muita sintonia (uso o termo agora como sinônimo de
unidade).
PARÊNTESE: Pra você, que está chegando agora, não
importa de que denominação seja, o ENPJ é o Encontro Nacional da Pastoral da
Juventude da ICAR (Igreja Católica Apostólica Romana). Fique atenta/o! De
alguma forma, isto servirá pra você também!
Recentemente, presenciei uma discussão entre
pejoteiras e pejoteiros. Os do norte e nordeste acusando os do sul e sudeste de
se sentirem superiores, e estes acusando aqueles de se fazerem de vítimas (ou, para
utilizar um termo atual: de “coitadismo”).
PARÊNTESE II: É importante dizer isso agora porque
o clima é de festa, e essas desavenças tendem a ser temporariamente esquecidas.
Mas, em algum momento, a discussão vai aparecer de novo, e pode ser que alguém
se lembre de ter lido sobre isso em algum lugar.
Além disso, vejo muita resistência de alguns grupos
ao que não tem a logo da PJ. Obviamente, não é em todos os lugares. Há que se
destacar, por exemplo, a participação ativa na REJU (nos lugares onde ela tem funcionado).
Mas sinto que falta o espírito ecumênico, principalmente em espaços onde a PJ
não é maioria, ou não teve a iniciativa da proposta. E não estou falando só do
Setor Juventude. Temos proposto, aqui no sul, várias atividades ecumênicas no
campo da Leitura Popular da Bíblia. Entretanto, as pejoteiras e pejoteiros
sempre estão envolvidos em campanhas, atividades e eventos internos. O curioso
é que o projeto “Bíblia e Juventudes” poderia abrir espaço para fazer ideias
como a da campanha contra a violência e extermínio de jovens ganharem eco em
outras denominações e, quem sabe, atingirem as ruas. Mas talvez as lideranças
da PJ ainda não tenham percebido a questão por esse viés...
Mas enfim... Falando sobre o ENPJ, sua abertura
oficial deu-se com a missa do último domingo (08/01/2012). Na ocasião, a ICAR
celebrou a liturgia dos “Reis” Magos, popularmente chamada “Folia de Reis”.
Herança folclórica dos portugueses, essa festa mexe com todo o povo (inclusive
eu: veja). Culturalmente, é uma manifestação muito rica. Porém, como as
Escrituras nem sempre foram acessíveis à maior parte do povo, este acabou contando
a história à sua maneira, de forma que ficou muito difícil separar o enredo
original da lenda.
A bem da verdade, o texto bíblico facilita esses
“acréscimos”, pois também é uma ficção. Presente apenas em Mateus, a história
toda é um midraxe (ou “midrash”, como
queiram), isto é, uma releitura da tradição judaica, mais especificamente da
narrativa do Êxodo. É o que se percebe pela semelhança entre cenas como a
sentença de Herodes (Mt 2,16-18) e a do Faraó (Ex 1,15-22). Além disso, o Êxodo
fala em um Deus que “desce” para socorrer o seu povo (Ex 3,7-8). O Cristo faz o
mesmo, tornando-se um de nós. Por este recurso literário, Mateus nos convida a
entender o messianismo de Jesus na ótica do Javé que ouve o clamor dos pobres.
A figura dos Magos é emblemática. Denominados
“Reis” pela tradição (título não encontrado na Bíblia), esses homens estão mais
para sábios. De fato, estão mais para astrólogos, pois conseguem identificar num
astro (a Estrela do Oriente, que representa a Estrela de Davi) o sinal de que havia
nascido o “rei dos judeus” (Mt 2,2). Muito do que se diz sobre eles, inclusive
suas idades e nomes, é fruto da tradição. O texto faz questão apenas de dizer
que esses eram Magos do Oriente (Mt 2,1).
Mateus fala para judeus convertidos ao
cristianismo. Por isso, defende a “descendência de Davi”, tentando demonstrar
como o seu “herdeiro” vem, não exatamente para restaurar o seu reino, mas
inaugurar um novo, celestial. Nesse novo Reino há espaço para todos, inclusive
os árabes (região de onde provavelmente vieram os magos, a julgar pelos
presentes: ouro, incenso e mirra).
Estes são, segundo a Bíblia, herdeiros de Ismael, filho de Abraão (Gn 16).
Portanto, têm a mesma origem de Israel. Entretanto, são inimigos mortais. A
visita dos sábios-astrólogos é promessa de um mundo sem guerras nem divisões,
onde todos são irmãs e irmãos: uma verdadeira Terra sem males.
Reforça este pensamento o fato de que os detentores
do projeto de morte, Herodes e o Império romano, não participaram da festa.
Herodes, quando soube do nascimento, quis matar o menino (Mt 2,16). E Roma não
mandou nenhum representante. Sequer os soldados que vigiavam a região perceberam
o que estava acontecendo. Porém, os magos (também pertencentes a povos dominados
pelo Império) e os pastores (Lc 2,8-20), isto é, os pobres da terra souberam
interpretar os sinais e acolher a Boa Nova.
Por isso faz todo sentido estar em sintonia com as/os
jovens do 10º ENPJ. Por outro lado, tomara que, neste encontro, a PJ reforce o
compromisso de se unir a outros grupos que lutam por uma causa comum: a Vida. Devemos
nos preparar para o momento em que todas/os seremos um (Jo 17,11). Nesse tempo,
não importará se somos do sul ou do norte, Ocidente ou Oriente, católicas ou
evangélicos, cristãs, budistas, muçulmanos ou ateus... Nenhum grupo ou religião
poderá se denominar porta-voz exclusivo da divindade. Antes, o macroecumenismo (diálogo
entre os povos, independente de religião) é que será a verdadeira antecipação do
Reino. A Bíblia não diz que os magos se converteram ao cristianismo. Aliás, nem
Jesus morreu cristão. Portanto, não confundamos unidade com uniformidade.
E você? Calma, não precisa se justificar... Apenas
pare e pense: Qual foi o último evento ecumênico do qual participou? Lembrou???
E viva a diversidade!!!
Pode crer Possato Jr.
ResponderExcluirCurti o seu texto. Concordo com vc!
É urgente criarmos ( a PJ) espaços para dialogar o ecumenismo. Embora, percebo que seria necessário o (a) jovem conhecer melhor a sua igreja ( no caso da PJ, a ICAR).A maioria se diz católica e não conhece ( talvez nuca tenha lido) o catecismo.
Assim, acredito que para nos abrirmos ao conceito de ecumenismo, ainda temos o desafio de dialogar o proprio catolicismo dentro da PJ. Talvez esse seja o 1º passo.
abraço.
Ariel.
PJ Campo Grande-MS.
Estimado irmão de caminhada ecumênica, juvenil e Bíblica. Partilho com você a certeza de que sim. A 10º ENPJ foi e está sendo um marco em nossa história. Não são tempos fáceis internamente (e sabes que estou por dentro) e por isso tenho clareza que o caminho percorrido durante o encotnro deram conta para isso.
ResponderExcluirsobre Ecumenismo: A oração do Pai Nosso foi na unanimidade ecumênico nas orações da manhã, dentro do evento. Quanto ao relacionamento com a REJU, esta sendo construído a cada dia. No acompanhamento ao Projeto Nacional A Juventude Quer Viver, posso dizr que, na relação no CONJUVE o caminho esta sendo traçado. Mas como apoiador da REJU tenho que dizer que também esta rede juvenil, tem alguns caminhos a percorrer.
E no caso do Bíblia e Juventudes tenho a compreensão que este é um projeto que estamos construindo ainda carece de sistematização nossa e de melhor visibilidade para ser mais assumido. E se a PJ ainda não assumiu é por que ele ainda não encontrou o "equação" certa para encantar a juventude. Para tanto temos que cativar, dialogar e fortalecer a nossa proposta. E creio sim que vamos encontrar.
Voltando ao 10º foi indiscutivelmente uma experiência maravihosa, há com certeza um rico comento para a PJ sendo construído. Abraço
Pe. Edinho - RS