sábado, 24 de dezembro de 2011

BOAS FESTAS!!!

Bom, pessoal...

Eu não tenho a menor inspiração para escrever algo sobre o Natal e o Reveillon. Não é que eu não goste de comemorar as festas de fim de ano... Mas o que muda efetivamente?

É tempo de repensar a vida? Rever conceitos? Fazer memória do nascimento de Jesus? Mas essa não deve ser uma atitude constante? Ou o resto do ano é tempo de sermos alienadas e alienados?

O que há de nobre em ser generosa, generoso nesta época? Só porque assim "exige" o espírito natalino?

Pra que fazer tantos planos que são engavetados assim que entra o dia 02 de janeiro? Por que esperar que as pessoas pratiquem valores cultivados somente em uma semana do ano?

Digo a vocês o que penso dessas datas! Em um mundo ideal, elas seriam tempo de comemorar o amor universal, a paz mundial, a erradicação da miséria e da fome, dia de comemorar a vida, a saúde e a felicidade.

Mas como não vivemos em um mundo ideal, Natal e Ano Novo deveriam ser dias de (re)afirmar a luta por um mundo melhor, esta sim uma exigência do Evangelho.

Nunca é demais lembrar que Jesus veio ao mundo para trazer-nos de volta ao Plano Divino, citado em Jo 10,10: "Que todas/os tenham vida, e vida em abundância".

A ideia geral é festejar, alegrar-se, esquecer-se dos problemas, isto é, da vida real. Mas deveria ser ao contrário. Deveria ser dia de rezar pelas/os que sofrem e comprometer-se com a causa delas/es.

Que neste Natal e Ano Novo, em vez de revisitar o passado, meramente a contemplá-lo, possamos olhar para as conquistas do presente e para as possibilidades do futuro. E, em vez de simplesmente comemorar o nascimento de Jesus, perguntemo-nos: "Pra que Jesus nasceu?" Este sim é o sentido do Natal.

É com esta reflexão em mente que desejo a todas/os: BOAS FESTAS!!!

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

O Papel da Bíblia nos Grupos de Base

O texto abaixo foi escrito, originalmente, para o blog do meu amigo Rogério de Oliveira. Seu site tem sido de grande valia para a PJ (Pastoral da Juventude – ICAR). Amigo Rogério, estou (re)disponibilizando este material porque, a meu ver, dialoga com a sua recente postagem: PJ não reza. Falamos em PJ porque é o chão comum a mim e ao Rogério, mas tenho certeza de que grupos de base de outras denominações poderão aproveitar estas reflexões. Vamos a elas?

LER PRA QUÊ?

De tudo o que passarei a discorrer agora, guarde principalmente isto: ler a Bíblia é comprometer-se. Não é que as outras coisas não tenham importância, mas tenho pressa de chegar ao que realmente interessa. Além disso, é como diz aquela canção sobre o profeta: “Tenho que gritar! Ai de mim, se não o faço!”

Irrita-me o falso zelo pela Bíblia. Dizem por aí que ela é a Palavra de Deus, que devemos reverenciá-la, que nela se encerra toda a Verdade etc. Mas o que vejo em nossos grupos é a sua leitura, muitas vezes, servindo apenas para iniciar as reuniões. Pensa-se garantir, assim, um momento de espiritualidade para introduzir os temas que “realmente interessam”. Em vez de colocá-la no centro das reflexões, servindo como um norte, um guia, fazem dela um “aperitivo a ser servido antes do prato principal”. Ignora-se, com isso, seu verdadeiro papel: iluminar as situações do dia-a-dia, especialmente aquelas onde a vida do povo encontra-se oprimida.

Ler a Bíblia deve transformar-nos. Caso contrário, não estamos lendo a Palavra de Deus. Claro, para que isso aconteça, muito depende da nossa abertura ao texto. Se nossa atitude não é de escuta, nada assimilaremos do que está diante de nossos olhos. Mas vejamos o que diz o profeta Isaías: “A palavra que sai de minha boca não volta para mim sem efeito, sem ter realizado o que eu quero e sem ter cumprido com sucesso a missão para a qual eu a mandei” (Is 55,11). A verdadeira Palavra de Deus incomoda, inquieta, desinstala, faz pensar e faz agir.

Esse incômodo, esse compromisso não é com qualquer causa. Segundo Jesus: “nem todo aquele que me diz ‘Senhor, Senhor’, entrará no Reino do Céu” (Mt 7,21a). É comum que, para abafar o chamado de Javé, alguns trechos das Escrituras sejam relativizados. Assim acontece com afirmações categóricas de Jesus como: “Vá, venda tudo o que tem, dê o dinheiro aos pobres, depois venha e me siga” (Mt 19,21). Alguns dizem que, aqui, Jesus refere-se às riqueza e pobreza espirituais. Dentro dessa lógica, qual a explicação para “dê o dinheiro aos pobres”? Alguém me disse, certa feita: “Se te chamam para falar a um grupo de banqueiros, vai... é tua missão! Se te chamam uma segunda vez... repense a missão!” O Cristo diz de outra forma: “Onde estiver teu tesouro, aí estará o teu coração” (Mt 6,21). O Reino é promessa de vida abundante para todas e para todos (Jo 10,10). Logo, o compromisso do Evangelho é com aquelas e aqueles que ainda não têm vida em plenitude, ou seja, os pobres.

Nos tempos bíblicos, os pobres eram representados por alguns grupos: leprosos, viúvas, órfãos, estrangeiros etc. A maior parte dos profetas diz que o louvor agradável a Javé é defender a causa desses grupos (veja, por ex., Is 1,10-11.17). Em Naim, Jesus vê uma viúva ficar “órfã” do filho. Naqueles tempos, ser mulher não era muito fácil. Sem um marido, então... Agora, imaginem uma viúva sem filhos homens para ampará-la. Compadecido pela situação, Jesus restitui a vida ao rapaz (Lc 7,11-17). Só isso já é suficiente para percebermos que nosso Deus toma partido, isto é, mesmo amando a todas e a todos, indiscriminadamente, Ele fica do lado dos que mais sofrem, como que a denunciar: “Olha, pessoal... Essas irmãs e irmãos aqui precisam de um pouquinho mais de dignidade.”

Os fatos são evidentes. Entretanto, há grupos exímios em distorcer os textos bíblicos. Por exemplo, em relação à Cruz! Para eles, qualquer sofrimento é um Calvário. Com isso, alegam estar seguindo a Cristo. “Esquecem” (muito convenientemente) os motivos que O levaram à crucifixão. Basta qualquer atrito, seja por um cargo ou função dentro do grupo ou comunidade, seja pelo “horário nobre” da missa (isto é, o horário onde a missa é mais frequentada), seja por causa da organização do bingo ou quermesse paroquial, e pronto: “Esta é a minha provação; estou sendo perseguida/o, assim como Jesus”. Alguns até batem no peito e citam as Escrituras de cor: “Quem não toma a sua cruz e não me segue, não é digno de mim” (Mt 10,38). Mas Jesus não morreu por um cargo na Igreja. Ele foi assassinado! E o motivo da barbárie é muito simples: alguém não gostou que o Messias defendesse a vida do povo.

Os pseudos-cristãos, isto é, aqueles que não se comprometem com nada nem ninguém, a não ser consigo mesmos, estão em toda parte. Ministrei, já faz um bom tempo, um curso de liderança. Lá pelas tantas, o grupo deveria responder a duas perguntas: 1) “Qual a maior dificuldade do seu bairro, grupo ou comunidade?”; 2) “Indique com gestos concretos como solucionar este problema?”. As respostas foram as seguintes: 1) “Problema: esgoto a céu aberto”; 2) “Solução: fazer uma tarde de louvor”. Mais recentemente, trabalhando o mesmo curso, alguém me disse: “Não quero discutir a situação dos carroceiros; quero discutir o meu grupo”. Fica evidente que alguns grupos usam o espaço da Igreja para auto-promoção. Dizem ser fiéis a Jesus, mas estão preocupados única e exclusivamente com a própria “salvação”.

O Messias também teve que enfrentar o “corpo mole” de alguns grupos para os quais falava. Mas Ele não entrava no jogo. Sua reação era enérgica: “Não pensem que eu vim trazer paz à terra; eu não vim trazer a paz, e sim a espada. De fato, eu vim separar o filho de seu pai, a filha de sua mãe, a nora de sua sogra. E os inimigos do homem serão os seus próprios familiares. Quem ama seu pai ou mãe mais do que a mim, não é digno de mim. Quem ama seu filho ou sua filha mais do que a mim, não é digno de mim. Quem não toma a sua cruz e não me segue, não é digno de mim. Quem procura conservar a própria vida, vai perdê-la. E quem perde a sua vida por causa de mim, vai encontrá-la” (Mt 10,34-39). Diante disso, como afirmar-se cristão e manter-se, ainda, alheio aos problemas à nossa volta?

O Evangelho diz: “Quem tiver duas túnicas, dê uma a quem não tem” (Lc 3,11). Ele não diz “olhe primeiro se o ‘vagabundo’ merece a túnica”, nem “fique com a melhor e dê a rasgada pra ele”, nem “dê aquela que está sobrando”. O ensinamento é simples e radical: partilhe. Por que, então, tanta resistência em ajudar (aliás... ajudar não: restituir a dignidade!) aos mais necessitados?

Que a Bíblia tome seu verdadeiro espaço em nossos grupos. Que nossas ações sejam pautadas pelos ensinamentos de Jesus. Que a nossa prática seja sempre inclusiva. E, por fim, que a partir da Bíblia busquemos incessantemente promover/defender a vida, principalmente onde ela é mais ferida, pois é isso que Cristo quer de nós. Amém!!!

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Um Culto de Instalação


Faz alguns dias, participei de uma celebração luterana. Isso porque fui convidado para representar o CEBI-RS no Culto de Instalação da Pra. Cleide na Paróquia da IECLB do bairro onde moro. Como eu já a conhecia dos encontros e cursos ecumênicos espalhados pelo sul do Brasil, sentia-me muito feliz de poder prestigiá-la. Porém, eu não esperava encontrar um rito tão vivo, tão aconchegante, tão participativo.

Espero que me entendam: eu não estava menosprezando a liturgia luterana; é que celebrações como essa tendem a se preocupar mais com os aspectos formais do que com a vida das pessoas. Sabem quando um Padre toma posse em uma Paróquia? Um Culto de Instalação, guardadas as devidas particularidades de cada denominação, é a mesma coisa. Aquela congregação tão singular, tão informal e, ao mesmo tempo, tão cheia de significado encheu-me de santa inveja.

Além da comunidade local, estavam presentes membros de diversas entidades ecumênicas e macro-ecumênicas (SELÉO, CECA, GDIREC e CEBI), líderes da IECLB e estudantes de Teologia da EST. As personalidades iam desde os vice-reitores da Unisinos e da EST, passando pela figura bem peculiar do Bandeira (espírita, membro do GDIREC), até o povo mais simples da comunidade (simples = sem cargos ou participação em outras instâncias). Houve um momento onde as pessoas poderiam dizer o que quisessem para a Pra. Cleide. Todos os segmentos falaram, por meio de seus representantes, de modo que todo mundo se sentiu incluído. Isso, para mim, foi muito especial e diferente de todas as solenidades que participei (aliás, participei não; presenciei).

Finalizando o rito, Cleide nos presenteou com uma reflexão sobre os Discípulos de Emaús (Lc 24,13-35). Não vou entrar em grandes reflexões sobre o texto, até porque já as fiz em outro momento, mas considero muito feliz a escolha do tema. Isso porque Jesus não caminhava lado a lado com dois discípulos quaisquer, mas um casal. Em Lc 24,18 aparece somente o nome de Cléofas. Porém, em Jo 19,25 são nomeadas as mulheres ao pé da cruz: uma delas é Maria, esposa de... adivinhem... isso mesmo! Clopas, que vem a ser o mesmo Cléofas de Lc.

E olhem que feliz coincidência – e aí está outro motivo de santa inveja para mim, que sou católico romano: quem assumiu a Paróquia da IECLB do meu bairro é uma mulher. Embora eu não conheça nenhuma Pastora Sinodal (cargo equivalente ao de Bispo), já me sinto feliz só de ver uma mulher no púlpito. Nossas denominações ainda são bem machistas, mas em algumas as mulheres têm conquistado mais espaços. Oxalá chegue o dia em que elas realmente sejam reconhecidas em condição de igualdade (e santidade?) com os homens.

Saí, por fim, realizado do culto. Que bom seria se todas as celebrações, solenes ou não, fossem assim tão humanas, tão simples e tão conectadas à vida. Glória a Deus!